Operação Monte Carlo
Segundo a Polícia Federal, Marconi Perillo (PSDB) entregou o comando da Segurança Pública nas mãos
do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que nomeava e pagava mesada a
delegados a fim de desenvolver livremente as suas atividades
criminosas no Estado. A PF descobriu que o mafioso, preso na casa que
era do Governador, indicou nomes para a Secretaria de Indústria e
Comércio e até para a pró-reitoria da UEG
Com o mesmo poder do furacão
Katrina, que em 2005 destruiu a costa Sul dos Estados Unidos, a
prisão do chefe da máfia dos caças níquéis e do jogo do bicho em
Goiás, Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira,
atinge com força devastadora a carreira política do governador
Marconi Perillo (PSDB).
No governo do tucano, era o
mafioso Cachoeira quem dava as cartas. Nomeava delegados e pagava
mesada a policiais do Estado. Indicava parentes para a Secretaria de
Indústria e Comércio e até um pró-reitor da Universidade
Estadual de Goiás – UEG, foi escolhido por ele.
Segundo o juiz Paulo Augusto
Moreira Lima, da 11ª Vara Federal de Goiânia, que determinou a
prisão do bicheiro, é assustador o alcance dos tentáculos da
organização criminosa comandada por Cachoeira e a influência dele
na nomeação de dezenas de pessoas para ocupar funções públicas
no Estado de Goiás.
Chefe da
jogatina e comandante de um esquema criminoso que tem Goiás como seu
quartel general e se ramifica por outros estados, a exemplo do
Tocantins, Cachoeira agia livremente em terras goianas, graças a
amizade que mantinha com o governador Marconi.
O senador Demóstenes Torres (DEM)
é, declaradamente, amigão do peito do bicheiro preso pela Polícia
Federal, de quem recebeu presentes caríssimos e importados.
Demóstenes já foi secretário de Segurança Pública em Goiás.
Curiosamente, a área mais chefiada por Cachoeira no governo de
Marconi Perillo.
Nos EUA o Furacão Katrina causou
aproximadamente mil mortes e dois bilhões de dólares de prejuízos.
Em Goiás, o Ministério Público Federal ainda não calculou o rombo
financeiro que a atuação de Cachoeira provocou nos cofres do
Estado. Mas já se sabe que assim como o Katrina, a prisão do
bicheiro vai resultar em muitos sepultamentos políticos.
Os afilhados de Don Corleone
Carlinhos Cachoeira comandava
cassinos ilegais em Goiás e no entorno de Brasília, cada um com
faturamento mensal em torno de R$ 3 milhões. Ele foi pego na
Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal, em conjunto
com o Ministério Público Federal e o Escritório de Inteligência
da Receita Federal.
Até ser preso, no último dia 29,
junto com mais de 30 integrantes da sua quadrilha criminosa,
Cachoeira reinou impune 16 anos no Estado, onde posava de Don
Corleone, o personagem fictício criado pelo escritor Mario Puzo e
baseado na vida real de alguns integrantes da máfia siciliana.
Don
Corleone é conhecido também como “o padrinho”, e Cachoeira
apadrinhava muita gente do mundo político e empresarial de Goiás.
Além
de Marconi e Demóstenes, aparecem na lista de políticos amigos do
bicheiro os deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair
Arantes (PTB) e o ex-vereador Wladmir Garcês, preso junto com o
padrinho mafioso.
As escutas telefônicas obtidas
pela Polícia Federal deixa claro o poder do bicheiro sobre policiais
militares, civis e federais de Goiás e a Justiça conclui que
Cachoeira pode ser considerado o maior corruptor de agentes públicos
encarregados da área de segurança de Goiás.
Entenda a máfia goiana
Bem ao estilo do poderoso chefão
da máfia siciliana, Carlinhos Cachoeira mandava e ingeria
sistematicamente no governo tucano. A organização criminosa
comandada por ele contava com sofisticada espionagem política e
empresarial, obtidas por meio de interceptações telefônicas
ilegais.
Segundo o
procurador da República em Goiás, Daniel Resende Salgado, a
quadrilha do bicheiro envolvia até
contatos com jornalistas encarregados de divulgar conteúdos capazes
de favorecer os interesses do crime.
Policiais e militares goianos
recebiam propinas regulares - semanais e mensais - para dar proteção
aos exploradores da jogatina, vazar informações sobre ações
repressivas e despistar as fiscalizações.
O valor da propina variava
conforme a patente do militar ou a função do policial. As maiores
fatias iam para os delegados, que recebiam até R$ 4 mil mensais.
Um soldado ganhava entre R$ 180 e R$ 200 por dia de serviço para a
organização. Já um sargento recebia diárias de R$ 300.
Entre os 35 mandados de prisão
cumpridos em Goiás pela Polícia Federal durante a Operação Monte
Carlo, há servidores públicos, dois delegados da PF, seis da
Polícia Civil do Estado, três tenentes, um capitão, dois
sargentos, quatro cabos, um major e 18 agentes da Polícia Militar.
Há ainda um policial rodoviário federal, um auxiliar administrativo
da PF de Brasília e um servidor da prefeitura de Valparaíso, cedido
para a Justiça do Estado.
Carreira de crime
Segundo o delegado da Polícia
Federal, Matheus Rodrigues, que coordenou a operação para prender o
bicheiro e seus comparsas, os principais crimes atribuídos ao grupo
são corrupção ativa e passiva, contrabando, lavagem de dinheiro,
evasão de divisas, peculato, violação de sigilo e formação de
quadrilha. O delito mais brando é o de exploração de jogo de azar.
O bicheiro foi pivô do primeiro
escândalo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
causado com a divulgação de um vídeo em que o subchefe de Assuntos
Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, negociava propina com o
bicheiro em troca de apoio à aprovação de projetos de legalização
de jogos.
Waldomiro Diniz era presidente da
Loterj – loteria do Rio de janeiro – e homem de confiança do
ministro José Dirceu, caçado por envolvimento no escândalo do
Mensalão. Diniz foi condenado a 12 anos de prisão por crime de
corrupção passiva e ativa e vai pagar multa de R$ 170 mil. A
sentença da juíza Maria Tereza Donatti, da 29ª Vara Criminal do
Rio de Janeiro, saiu no mesmo dia que Cachoeira era preso em Goiânia.
Policiais
fingiam trabalhar
Nos
17 anos que desenvolveu suas atividades ilegais em Goiás, Carlinhos
Cachoeira jamais sofreu uma ação policial mais incisiva, porque
policiais eram pagos por ele para que todas as tentativas de
repressão resultassem em nada. Eles eram responsáveis por informar
a organização criminosa sobre qualquer ação que seria feita
contra o grupo.
Em
alguns momentos, esses policiais até faziam pseudo-operações para
tentar passar a população a sensação de que estava combatendo o
crime. Em 2006, uma tentativa de investigação terminou frustrada
porque servidores mandados por Cachoeira fizeram uma operação
tartaruga que impediu o êxito da operação.
Na
organização do grupo, era Cachoeira quem concedia uma licença de
exploração dos pontos a donos de galpões clandestinos em cidades
de Goiás. Os policiais civis e militares envolvidos fechavam os
locais que não tinham o aval do chefe.
O
governador Marconi não deu nenhuma justificativa a sociedade sobre
as denúncias feitas pela PF e Ministério Público Federal, dando
conta de que ele entregou o comando da Segurança Pública para
Carlinhos Cachoeira, chefe de uma quadrilha organizada.
Marconi
negociou com Cachoeira
Carlinhos
Cachoeira, que segundo a Polícia Federal, mandava na segurança
pública de Goiás, foi preso morando numa casa que até 2010
pertenceu a Marconi Perillo, o que reforça a forte ligação entre
os dois. O Governador justifica que vendeu a casa em um negócio
intermediado pelo ex-vereador Wladmir Garcês, também apontado pela
PF como membro da quadrilha de Cachoeira e que foi preso junto com
ele.
A
explicação de Marconi não refresca a situação dele no meio do
tsunami que atingiu os políticos amigos de Cachoeira. Pelo
contrário, transcrições telefônicas da PF revelam que o
ex-vereador Wladmir Garcês – sócio de Cachoeira e
correligionário de Marconi –, era encarregado de trocar torpedos
no celular com o bicheiro, repassar as informações para o
Governador, e vice versa.
Segundo
o juiz Paulo Augusto Moreira Lima, cabia a Wladmir Garcês explorar
a jogatina e servir de ponte entre o bicheiro e a Polícia Civil de
Goiás. “Ele era utilizado por Cachoeira para contatar também o
corregedor-geral da Polícia Civil, objetivando obter informações
sigilosas”, frisa o magistrado da 11ª Vara Federal.
Conexões
Perigosas
O
senador Demóstenes Torres, que apareceu recentemente na lista dos
100 homens mais influentes do Brasil, aparece agora na lista suja de
Carlinhos Cachoeira, uma girada de 360 graus na sua imagem de
defensor mor da moralidade política no Senado.
Segundo
as investigações, o senador ganhou de Cachoeira uma cozinha
completa, importada e caríssima – cerca de U$ 27 mil – , e
conversou por telefone 298 vezes com o bicheiro, entre fevereiro
e agosto de 2011. Demóstenes comandou a Segurança Publica, área
chefiada também por Carlinhos Cachoeira.
O
deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB), também aparece nas
investigações como amigo chegado de Cachoeira e um dos
beneficiados pelo bicheiro, de quem obtinha vagas de emprego para
eleitores.
Correligionário
de Marconi e seu amigo fiel de longa, Leréia aparece com grande
frequência nos grampos da Operação Monte Carlo. Foram detectadas
70 ligações entre ele e o bicheiro, que cita o deputado em outras
dezenas de conversas.
Segundo
o parlamentar, que é presidente da Comissão de Relações
Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, a família
dele e a de Cachoeira são amigas há muitos anos. Leréia diz que
nunca escondeu essa amizade, sempre frequentou a casa de Cachoeira.
Mas assevera: “ Nunca tive negócios com ele”.
O
deputado Jovair Arantes, líder do PTB na Câmara Federal, e que
também aparece na lista de amigos do bicheiro, admite a ligação
com Cachoeira e acrescenta ter lhe pedido dinheiro para jogar na
campanha eleitoral desse ano – o parlamentar é pré-candidato a
prefeitura de Goiânia. Jovair, assim como os demais amigos de
Cachoeira, continuarão sendo investigados pela PF e Ministério
Público Federal.
Yes,
nós temos políticos honestos
A
prisão do mafioso Cachoeira desencadeou uma onda de sinceridade, e
até de ingenuidade, nunca vista antes na historia dos políticos
goianos. Geralmente envolvidos em escândalos de corrupção, e
acostumados a engabelar o eleitor, de repente, todos os políticos
afilhados do padrinho Don Corleone, resolveram falar com a imprensa.
E mais: nem pestanejaram ou ficaram vermelhos para admitir que são
amigos íntimos do chefe de uma organização criminosa.
Talvez
porque a PF e o MPF não deixaram dúvidas quanto as ligações
suspeitas e perigosas, todos os políticos, como se tivessem feito
um pacto, apresentaram justificativas quase idênticas, com exceção
de Wladmir Garcês, que foi preso sem dizer uma palavra. Garcês
lançou mão do seu último direito, o de permanecer calado.
Como
se fosse correto, moral e ético um chefe de Estado negociar com um
chefão do crime, o governador Marconi Perillo tentou se livrar da
saia justa que foi o bandido ter sido preso na casa que até 2010
era dele, explicando que vendeu a casa para o bicheiro, mas quem
intermediou o negócio foi Wladmir Garcês.
A
onda repentina de sinceridade fez Marconi, sem querer, reforçar o
elo de ligação que PF já sabia: Garcês é sócio e amigo do
bicheiro, correligionário e amigo de Marconi, e fazia o papel de
interlocutor entre o Governo e Cachoeira. Segundo a versão de
Marconi, ele fez negócio com dois bandidos que foram presos pela
Polícia Federal na Operação Monte Carlo.
De
todas as justificativas, a mais engraçada, e ingênua, foi dada por
Demóstenes Torres, que é presidente da Comissão de Constituição
e Justiça do Senado.
Questionado pela imprensa, Demóstenes saiu-se com essa: “Eu
pensei que ele (Cachoeira), tivesse abandonado o crime.” (sic).
Cachoeira
só não se regenerou porque encontrou em Goiás o aparato
necessário para continuar no crime e também porque o senador,
quando foi secretário de Segurança Pública, não conseguiu
implantar o seu projeto de ressocialização de marginais. Uma pena.
Mal
orientado pelos assessores de imprensa, Demóstenes tentou corrigir
a gafe junto a jornalistas e acabou expondo a vida privada da
família. Depois de receber a ajuda dos colegas parlamentares, fez
outra justificativa em plenário. Ele leu um texto. Ou seria isso,
ou então o jeito era apelar para a clássica frase: “Não tenho
nada a declarar”.
Polícia
Federal vai ter trabalho
As investigações da Operação
Monte Carlo vão continuar e, de acordo com uma fonte da Polícia
Federal, a prioridade é descobrir o funcionamento das trocas de
favores entre o bicheiro os políticos goianos envolvidos com ele.
Cachoeira é hoje o mais importante arquivo vivo dos esquemas
corruptos que rolam nos bastidores do Governo.
A PF quer saber, por exemplo, por
que o senador Demóstenes jamais incomodou a quadrilha de Carlinhos
Cachoeira, nem quando foi procurador geral de Justiça por dois
mandatos, nem quando ocupou a chefia da Secretaria de Segurança
Publica e Justiça. Esse é o calcanhar de aquiles de Demóstenes,
pois era na segurança que Cachoeira exercia com mais impacto o seu
poder de mando em Goiás.
O Ministério Público também
será questionado, assegura o agente da PF, por não ter nunca
incomodado a organização criminosa chefiada por Cachoeira, apesar
de todo o Estado ter conhecimento de quem ele é e saber dos
negócios que mantinha com o Estado.
Vale lembrar, o atual procurador
geral de Justiça, Benedito Torres, é irmão do senador Demóstenes
Torres, amigo de Cachoeira. Benedito foi escolhido chefe do
Ministério Público goiano na constrangedora lista tríplice
encaminhada ao Governo do Estado. O último voto foi de Marconi,
também amigo do bicheiro Cachoeira.
A mesma fonte diz que a PF tenta
descobrir que esquema Cachoeira utilizava para intermediar contratos
de empresas junto ao Governo Marconi, como aconteceu no caso da
Delta Engenharia. A Polícia desconfia que Cachoeira é sócio
informal dela no Estado.
A empreiteira, do carioca
Fernando Cavendish, se instalou em Goiás em 2006. Naquele ano,
faturou R$ 5,5 milhões do Estado. Hoje, os contratos da Delta já
somam R$ 276 milhões e, além do Estado, abrangem diversas
prefeituras, inclusive a de Goiânia. Cachoeira e Garcês, segundo a
Polícia, mantinham salas dentro da empresa.
A torre de babel começa a ruir,
o esquema fechado que garantiu a impunidade do poderoso chefão em
Goiás começa a ter seus integrantes identificados. Mas, a julgar
pelas declarações dos políticos amigos de Carlinhos Cachoeira, a
Polícia Federal ainda vai ter muito trabalho no Estado.
Governador
Marconi Perillo: “Carlinhos
frequentava a alta sociedade, por isso é normal que eu o conhecesse.
Nos falamos por telefone, não me lembro sobre o que, mas lembro de
ter vendido uma casa (mansão) pra ele”.
Senador
Demóstenes: “A
mulher do meu suplente (Wilder Pedro de Morais) o deixou e passou a
viver com Cachoeira. Eu e minha mulher tivemos de resolver esse
problema. Por isso houve tantas ligações e encontros”.
Deputado
federal Carlos Leréia: “Nossas
famílias são amigas há muitos anos. Nunca escondi nossa amizade,
sempre frequentei a casa dele. Mas nunca tive negócios com ele”.
Deputado
Jovair Arantes: “Eu
já falei com Cacheira, mas não temos negócios. Eu só pedi pra ele
uma doação para a minha campanha, mas tudo dentro da legalidade”
Ex-vereador
Wladmir Garcês: Usou
o direito, constitucional, de permanecer calado ao ser pego, de
surpresa, pela Operação Monte Carlo
Bicheiro
Carlinhos Cachoeira: Permanece
calado, na esperança de, em troca da fidelidade canina, ser
libertado pelos amigos políticos de Goiás
Marconi
e Demóstenes, os dois nomes mais fortes da política goiana são
acusados pela Polícia Federal de manter relações estreitas e
altamente suspeitas com Carlinhos Cachoeira, o poderoso chefão da
máfia dos caça níquéis e do jogo do bicho em Goiás
Cachoeira
e seu bando vão responder pelos crimes de corrupção ativa e
passiva, violação de sigilo, facilitação ao contrabando,
contrabando, peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha
Os
envolvidos com Cachoeira que tem foro privilegiado, a exemplo do
senador Demóstenes Torres, serão investigados pela Procuradoria
Geral da República e Supremo Tribunal Federal
"O
Senador Demóstenes Cachoeira e o governador Carlinhos Perillo não
conhecem o verdadeiro Governador de Goiás, o senhor Carlinhos
cachoeira. Que vergonha prenderam o Governador de Goiás! "
(Comentário
de um internauta, e que melhor define a era Carlinhos Cachoeira no
Estado)
“Cachoeira
tinha influência na nomeação de dezenas de pessoas para ocupar
funções públicas no Estado de Goiás”
(Juiz
Paulo Moreira, da 11ª Vara Federal de Goiânia)
O
ex-vereador Wladmir Garcez, correligionário de Marconi Perillo,
trocava dezenas de torpedos pelo celular com o Governador e depois
repassava as informações para Cachoeira
“Se
Carlinhos Cachoeira não morrer na prisão e abrir o bico, cai meio
mundo político em Goiás” (Opinião
de um promotor de Justiça que não será identificado)
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