15 de março de 2013

Governo de Goiás afunda na "Cachoeira" da corrupção


Operação Monte Carlo
Segundo a Polícia Federal, Marconi Perillo (PSDB) entregou o comando da Segurança Pública nas mãos do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que nomeava e pagava mesada a delegados a fim de desenvolver livremente as suas atividades criminosas no Estado. A PF descobriu que o mafioso, preso na casa que era do Governador, indicou nomes para a Secretaria de Indústria e Comércio e até para a pró-reitoria da UEG

Com o mesmo poder do furacão Katrina, que em 2005 destruiu a costa Sul dos Estados Unidos, a prisão do chefe da máfia dos caças níquéis e do jogo do bicho em Goiás, Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, atinge com força devastadora a carreira política do governador Marconi Perillo (PSDB).
No governo do tucano, era o mafioso Cachoeira quem dava as cartas. Nomeava delegados e pagava mesada a policiais do Estado. Indicava parentes para a Secretaria de Indústria e Comércio e até um pró-reitor da Universidade Estadual de Goiás – UEG, foi escolhido por ele.
Segundo o juiz Paulo Augusto Moreira Lima, da 11ª Vara Federal de Goiânia, que determinou a prisão do bicheiro, é assustador o alcance dos tentáculos da organização criminosa comandada por Cachoeira e a influência dele na nomeação de dezenas de pessoas para ocupar funções públicas no Estado de Goiás.
Chefe da jogatina e comandante de um esquema criminoso que tem Goiás como seu quartel general e se ramifica por outros estados, a exemplo do Tocantins, Cachoeira agia livremente em terras goianas, graças a amizade que mantinha com o governador Marconi.
O senador Demóstenes Torres (DEM) é, declaradamente, amigão do peito do bicheiro preso pela Polícia Federal, de quem recebeu presentes caríssimos e importados. Demóstenes já foi secretário de Segurança Pública em Goiás. Curiosamente, a área mais chefiada por Cachoeira no governo de Marconi Perillo.
Nos EUA o Furacão Katrina causou aproximadamente mil mortes e dois bilhões de dólares de prejuízos. Em Goiás, o Ministério Público Federal ainda não calculou o rombo financeiro que a atuação de Cachoeira provocou nos cofres do Estado. Mas já se sabe que assim como o Katrina, a prisão do bicheiro vai resultar em muitos sepultamentos políticos.

Os afilhados de Don Corleone
Carlinhos Cachoeira comandava cassinos ilegais em Goiás e no entorno de Brasília, cada um com faturamento mensal em torno de R$ 3 milhões. Ele foi pego na Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público Federal e o Escritório de Inteligência da Receita Federal.
Até ser preso, no último dia 29, junto com mais de 30 integrantes da sua quadrilha criminosa, Cachoeira reinou impune 16 anos no Estado, onde posava de Don Corleone, o personagem fictício criado pelo escritor Mario Puzo e baseado na vida real de alguns integrantes da máfia siciliana.
Don Corleone é conhecido também como “o padrinho”, e Cachoeira apadrinhava muita gente do mundo político e empresarial de Goiás. Além de Marconi e Demóstenes, aparecem na lista de políticos amigos do bicheiro os deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair Arantes (PTB) e o ex-vereador Wladmir Garcês, preso junto com o padrinho mafioso.
As escutas telefônicas obtidas pela Polícia Federal deixa claro o poder do bicheiro sobre policiais militares, civis e federais de Goiás e a Justiça conclui que Cachoeira pode ser considerado o maior corruptor de agentes públicos encarregados da área de segurança de Goiás.

Entenda a máfia goiana
Bem ao estilo do poderoso chefão da máfia siciliana, Carlinhos Cachoeira mandava e ingeria sistematicamente no governo tucano. A organização criminosa comandada por ele contava com sofisticada espionagem política e empresarial, obtidas por meio de interceptações telefônicas ilegais.
Segundo o procurador da República em Goiás, Daniel Resende Salgado, a quadrilha do bicheiro envolvia até contatos com jornalistas encarregados de divulgar conteúdos capazes de favorecer os interesses do crime.
Policiais e militares goianos recebiam propinas regulares - semanais e mensais - para dar proteção aos exploradores da jogatina, vazar informações sobre ações repressivas e despistar as fiscalizações.
O valor da propina variava conforme a patente do militar ou a função do policial. As maiores fatias iam para os delegados, que recebiam até R$ 4 mil mensais. Um soldado ganhava entre R$ 180 e R$ 200 por dia de serviço para a organização. Já um sargento recebia diárias de R$ 300.
Entre os 35 mandados de prisão cumpridos em Goiás pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo, há servidores públicos, dois delegados da PF, seis da Polícia Civil do Estado, três tenentes, um capitão, dois sargentos, quatro cabos, um major e 18 agentes da Polícia Militar. Há ainda um policial rodoviário federal, um auxiliar administrativo da PF de Brasília e um servidor da prefeitura de Valparaíso, cedido para a Justiça do Estado.
Carreira de crime
Segundo o delegado da Polícia Federal, Matheus Rodrigues, que coordenou a operação para prender o bicheiro e seus comparsas, os principais crimes atribuídos ao grupo são corrupção ativa e passiva, contrabando, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, peculato, violação de sigilo e formação de quadrilha. O delito mais brando é o de exploração de jogo de azar.
O bicheiro foi pivô do primeiro escândalo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, causado com a divulgação de um vídeo em que o subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, negociava propina com o bicheiro em troca de apoio à aprovação de projetos de legalização de jogos.
Waldomiro Diniz era presidente da Loterj – loteria do Rio de janeiro – e homem de confiança do ministro José Dirceu, caçado por envolvimento no escândalo do Mensalão. Diniz foi condenado a 12 anos de prisão por crime de corrupção passiva e ativa e vai pagar multa de R$ 170 mil. A sentença da juíza Maria Tereza Donatti, da 29ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, saiu no mesmo dia que Cachoeira era preso em Goiânia.

Policiais fingiam trabalhar
Nos 17 anos que desenvolveu suas atividades ilegais em Goiás, Carlinhos Cachoeira jamais sofreu uma ação policial mais incisiva, porque policiais eram pagos por ele para que todas as tentativas de repressão resultassem em nada. Eles eram responsáveis por informar a organização criminosa sobre qualquer ação que seria feita contra o grupo.
Em alguns momentos, esses policiais até faziam pseudo-operações para tentar passar a população a sensação de que estava combatendo o crime. Em 2006, uma tentativa de investigação terminou frustrada porque servidores mandados por Cachoeira fizeram uma operação tartaruga que impediu o êxito da operação.
Na organização do grupo, era Cachoeira quem concedia uma licença de exploração dos pontos a donos de galpões clandestinos em cidades de Goiás. Os policiais civis e militares envolvidos fechavam os locais que não tinham o aval do chefe.
O governador Marconi não deu nenhuma justificativa a sociedade sobre as denúncias feitas pela PF e Ministério Público Federal, dando conta de que ele entregou o comando da Segurança Pública para Carlinhos Cachoeira, chefe de uma quadrilha organizada.

Marconi negociou com Cachoeira
Carlinhos Cachoeira, que segundo a Polícia Federal, mandava na segurança pública de Goiás, foi preso morando numa casa que até 2010 pertenceu a Marconi Perillo, o que reforça a forte ligação entre os dois. O Governador justifica que vendeu a casa em um negócio intermediado pelo ex-vereador Wladmir Garcês, também apontado pela PF como membro da quadrilha de Cachoeira e que foi preso junto com ele.
A explicação de Marconi não refresca a situação dele no meio do tsunami que atingiu os políticos amigos de Cachoeira. Pelo contrário, transcrições telefônicas da PF revelam que o ex-vereador Wladmir Garcês – sócio de Cachoeira e correligionário de Marconi –, era encarregado de trocar torpedos no celular com o bicheiro, repassar as informações para o Governador, e vice versa.
Segundo o juiz Paulo Augusto Moreira Lima, cabia a Wladmir Garcês explorar a jogatina e servir de ponte entre o bicheiro e a Polícia Civil de Goiás. “Ele era utilizado por Cachoeira para contatar também o corregedor-geral da Polícia Civil, objetivando obter informações sigilosas”, frisa o magistrado da 11ª Vara Federal.

Conexões Perigosas
O senador Demóstenes Torres, que apareceu recentemente na lista dos 100 homens mais influentes do Brasil, aparece agora na lista suja de Carlinhos Cachoeira, uma girada de 360 graus na sua imagem de defensor mor da moralidade política no Senado.
Segundo as investigações, o senador ganhou de Cachoeira uma cozinha completa, importada e caríssima – cerca de U$ 27 mil – , e conversou por telefone 298 vezes com o bicheiro, entre fevereiro e agosto de 2011. Demóstenes comandou a Segurança Publica, área chefiada também por Carlinhos Cachoeira.
O deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB), também aparece nas investigações como amigo chegado de Cachoeira e um dos beneficiados pelo bicheiro, de quem obtinha vagas de emprego para eleitores.
Correligionário de Marconi e seu amigo fiel de longa, Leréia aparece com grande frequência nos grampos da Operação Monte Carlo. Foram detectadas 70 ligações entre ele e o bicheiro, que cita o deputado em outras dezenas de conversas.
Segundo o parlamentar, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, a família dele e a de Cachoeira são amigas há muitos anos. Leréia diz que nunca escondeu essa amizade, sempre frequentou a casa de Cachoeira. Mas assevera: “ Nunca tive negócios com ele”.
O deputado Jovair Arantes, líder do PTB na Câmara Federal, e que também aparece na lista de amigos do bicheiro, admite a ligação com Cachoeira e acrescenta ter lhe pedido dinheiro para jogar na campanha eleitoral desse ano – o parlamentar é pré-candidato a prefeitura de Goiânia. Jovair, assim como os demais amigos de Cachoeira, continuarão sendo investigados pela PF e Ministério Público Federal.

Yes, nós temos políticos honestos
A prisão do mafioso Cachoeira desencadeou uma onda de sinceridade, e até de ingenuidade, nunca vista antes na historia dos políticos goianos. Geralmente envolvidos em escândalos de corrupção, e acostumados a engabelar o eleitor, de repente, todos os políticos afilhados do padrinho Don Corleone, resolveram falar com a imprensa. E mais: nem pestanejaram ou ficaram vermelhos para admitir que são amigos íntimos do chefe de uma organização criminosa.
Talvez porque a PF e o MPF não deixaram dúvidas quanto as ligações suspeitas e perigosas, todos os políticos, como se tivessem feito um pacto, apresentaram justificativas quase idênticas, com exceção de Wladmir Garcês, que foi preso sem dizer uma palavra. Garcês lançou mão do seu último direito, o de permanecer calado.
Como se fosse correto, moral e ético um chefe de Estado negociar com um chefão do crime, o governador Marconi Perillo tentou se livrar da saia justa que foi o bandido ter sido preso na casa que até 2010 era dele, explicando que vendeu a casa para o bicheiro, mas quem intermediou o negócio foi Wladmir Garcês.
A onda repentina de sinceridade fez Marconi, sem querer, reforçar o elo de ligação que PF já sabia: Garcês é sócio e amigo do bicheiro, correligionário e amigo de Marconi, e fazia o papel de interlocutor entre o Governo e Cachoeira. Segundo a versão de Marconi, ele fez negócio com dois bandidos que foram presos pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo.
De todas as justificativas, a mais engraçada, e ingênua, foi dada por Demóstenes Torres, que é presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Questionado pela imprensa, Demóstenes saiu-se com essa: “Eu pensei que ele (Cachoeira), tivesse abandonado o crime.” (sic).
Cachoeira só não se regenerou porque encontrou em Goiás o aparato necessário para continuar no crime e também porque o senador, quando foi secretário de Segurança Pública, não conseguiu implantar o seu projeto de ressocialização de marginais. Uma pena.
Mal orientado pelos assessores de imprensa, Demóstenes tentou corrigir a gafe junto a jornalistas e acabou expondo a vida privada da família. Depois de receber a ajuda dos colegas parlamentares, fez outra justificativa em plenário. Ele leu um texto. Ou seria isso, ou então o jeito era apelar para a clássica frase: “Não tenho nada a declarar”.

Polícia Federal vai ter trabalho
As investigações da Operação Monte Carlo vão continuar e, de acordo com uma fonte da Polícia Federal, a prioridade é descobrir o funcionamento das trocas de favores entre o bicheiro os políticos goianos envolvidos com ele. Cachoeira é hoje o mais importante arquivo vivo dos esquemas corruptos que rolam nos bastidores do Governo.
A PF quer saber, por exemplo, por que o senador Demóstenes jamais incomodou a quadrilha de Carlinhos Cachoeira, nem quando foi procurador geral de Justiça por dois mandatos, nem quando ocupou a chefia da Secretaria de Segurança Publica e Justiça. Esse é o calcanhar de aquiles de Demóstenes, pois era na segurança que Cachoeira exercia com mais impacto o seu poder de mando em Goiás.
O Ministério Público também será questionado, assegura o agente da PF, por não ter nunca incomodado a organização criminosa chefiada por Cachoeira, apesar de todo o Estado ter conhecimento de quem ele é e saber dos negócios que mantinha com o Estado.
Vale lembrar, o atual procurador geral de Justiça, Benedito Torres, é irmão do senador Demóstenes Torres, amigo de Cachoeira. Benedito foi escolhido chefe do Ministério Público goiano na constrangedora lista tríplice encaminhada ao Governo do Estado. O último voto foi de Marconi, também amigo do bicheiro Cachoeira.
A mesma fonte diz que a PF tenta descobrir que esquema Cachoeira utilizava para intermediar contratos de empresas junto ao Governo Marconi, como aconteceu no caso da Delta Engenharia. A Polícia desconfia que Cachoeira é sócio informal dela no Estado.
A empreiteira, do carioca Fernando Cavendish, se instalou em Goiás em 2006. Naquele ano, faturou R$ 5,5 milhões do Estado. Hoje, os contratos da Delta já somam R$ 276 milhões e, além do Estado, abrangem diversas prefeituras, inclusive a de Goiânia. Cachoeira e Garcês, segundo a Polícia, mantinham salas dentro da empresa.
A torre de babel começa a ruir, o esquema fechado que garantiu a impunidade do poderoso chefão em Goiás começa a ter seus integrantes identificados. Mas, a julgar pelas declarações dos políticos amigos de Carlinhos Cachoeira, a Polícia Federal ainda vai ter muito trabalho no Estado.


Governador Marconi Perillo: “Carlinhos frequentava a alta sociedade, por isso é normal que eu o conhecesse. Nos falamos por telefone, não me lembro sobre o que, mas lembro de ter vendido uma casa (mansão) pra ele”.

Senador Demóstenes: “A mulher do meu suplente (Wilder Pedro de Morais) o deixou e passou a viver com Cachoeira. Eu e minha mulher tivemos de resolver esse problema. Por isso houve tantas ligações e encontros”.

Deputado federal Carlos Leréia: “Nossas famílias são amigas há muitos anos. Nunca escondi nossa amizade, sempre frequentei a casa dele. Mas nunca tive negócios com ele”.

Deputado Jovair Arantes: “Eu já falei com Cacheira, mas não temos negócios. Eu só pedi pra ele uma doação para a minha campanha, mas tudo dentro da legalidade”

Ex-vereador Wladmir Garcês: Usou o direito, constitucional, de permanecer calado ao ser pego, de surpresa, pela Operação Monte Carlo

Bicheiro Carlinhos Cachoeira: Permanece calado, na esperança de, em troca da fidelidade canina, ser libertado pelos amigos políticos de Goiás

Marconi e Demóstenes, os dois nomes mais fortes da política goiana são acusados pela Polícia Federal de manter relações estreitas e altamente suspeitas com Carlinhos Cachoeira, o poderoso chefão da máfia dos caça níquéis e do jogo do bicho em Goiás

Cachoeira e seu bando vão responder pelos crimes de corrupção ativa e passiva, violação de sigilo, facilitação ao contrabando, contrabando, peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha

Os envolvidos com Cachoeira que tem foro privilegiado, a exemplo do senador Demóstenes Torres, serão investigados pela Procuradoria Geral da República e Supremo Tribunal Federal

"O Senador Demóstenes Cachoeira e o governador Carlinhos Perillo não conhecem o verdadeiro Governador de Goiás, o senhor Carlinhos cachoeira. Que vergonha prenderam o Governador de Goiás! " (Comentário de um internauta, e que melhor define a era Carlinhos Cachoeira no Estado)

Cachoeira tinha influência na nomeação de dezenas de pessoas para ocupar funções públicas no Estado de Goiás” (Juiz Paulo Moreira, da 11ª Vara Federal de Goiânia)
O ex-vereador Wladmir Garcez, correligionário de Marconi Perillo, trocava dezenas de torpedos pelo celular com o Governador e depois repassava as informações para Cachoeira

Se Carlinhos Cachoeira não morrer na prisão e abrir o bico, cai meio mundo político em Goiás” (Opinião de um promotor de Justiça que não será identificado)







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