Justiça acata pedido do
Ministério Público de Goiás e anula concurso da educação
promovido pelo prefeito Maguito Vilela. O certame indicava até as
pessoas que deveriam ser aprovadas. Promotor requereu a cassação do
mandato do peemedebista
Corrupção em Aparecida
O concurso da Secretaria da
Educação realizado pelo prefeito Maguito Vilela (PMDB), de
Aparecida de Goiânia, não resistiu ao abarrotamento de fraudes e
irregularidades. Ele foi anulado no último dia 23 pelo juiz
Desclieux Ferreira da Silva Júnior, da 2ª Vara da Fazenda Pública
Municipal, que acatou liminar do Ministério Público Estadual.
Maguito Vilela, ex- governador e
ex-senador por Goiás, é acusado pelo Ministério Público de lesar
44 mil pessoas que prestaram o concurso. Dentre as irregularidades,
mais de 16 mil pessoas fizeram provas para dois cargos que não
existem no município, o de agente educativo e agente de serviços
diversos.
O prefeito pode perder o mandato e
ter os direitos políticos suspensos por até oito anos. O pedido foi
feito na Ação Civil por Improbidade Administrativa, assinada pelo
promotor Élvio Vicente da Silva, da 9ª Promotoria de Justiça
(Defesa do Patrimônio Público). Élvio é responsável também pela
Ação Cautelar que resultou na anulação do concurso da educação.
O concurso público de Aparecida,
distante 19 quilômetros de Goiânia, já nasceu na ilegalidade. A
empresa escolhida por Maguito para realiza-lo, o Ibeg – Instituto
Brasileiro de Educação e Gestão, não passou pelo crivo do devido
processo licitatório.
Sediado em Brasília, o Ibeg
precisou apenas ser indicado pelo secretário da Educação de
Aparecida, Domingos Pereira, para firmar um contrato milionário com
a Prefeitura, de número 444-2009, no valor de R$ 1,8 milhão.
Cartas marcadas
Por
ter indicado o Ibeg para realizar o concurso da Educação de
Aparecida de Goiânia, o secretário da Pasta, Domingos Pereira,
receberia 20% em cima dos quase R$ 2 milhões pagos à empresa. A
denúncia foi feita no Ministério Publico pelo vereador de
Aparecida, Jonas Alves Cachoeira (PTdoB).
O
parlamentar é o autor de duas representações no MPE denunciando
fraudes na contratação do Ibeg. Élvio Vicente requereu o
afastamento do cargo e a suspensão dos direitos políticos também
do secretário Pereira.
Segundo
Cachoeira, o concurso seria um jogo de cartas marcadas para empregar
afilhados de políticos. “Havia até indicação de pessoas para
ser aprovadas”, revelou. Élvio Vicente afirma na Ação Cautelar
ter encontrado na lista de aprovados nomes de pessoas que antes não
estavam lá.
Segundo
depoimento de uma candidata – ela pediu a omissão do nome por
temer represálias –, o secretário da Educação teria incluído,
em menos de 15 minutos, dois candidatos reprovados na lista dos
aprovados. Ela conta ter presenciado o caso dentro da Secretaria de
Educação, quando esteve lá para saber como reaver o dinheiro que
pagou pela inscrição no concurso.
Reaver
o dinheiro das inscrições é outra penitência imposta aos
candidatos pelo Ibeg. Eles alegam que o site do Instituto está
sempre fora do ar e a empresa não montou escritório em Aparecida
para dar alguma satisfação aos milhares de insatisfeitos.
Extra, extra, extra!
Vagas para empregos fantasmas
A prefeitura reservou 198 vagas
para o cargo de Agente Educativo e 429 para o de Agente de Serviços
Diversos, totalizando 627 vagas para empregos fantasmas, via concurso
público fraudulento. Élvio Vicente salienta que tais cargos nunca
foram criados em Aparecida de Goiânia.
Mais
de 16 mil pessoas se inscreveram para concorrer a essas duas funções
inexistentes. Os candidatos pagaram taxas de inscrição que variaram
de R$ 30 a R$ 50,00. Todo o dinheiro arrecadado iria para o Ibeg,
conforme prevê o contrato firmado com a Prefeitura.
Além dos cargos que não existem,
da falta de licitação na contratação do Ibeg , o Instituto já
foi acusado pela CGU – Controladoria Geral da união, de ter
cometido várias falcatruas quando executou e supervisionou o
Projovem em Aparecida de Goiânia.
De acordo com Élvio Vicente, a
Procuradoria Geral do Município deixou claro ao prefeito a
necessidade de se fazer a concorrência pública. Maguito fez ouvidos
de mercador, seguiu adiante na negociação e contratou o Ibeg ao
arrepio da lei.
Recorde Suspeito
Em apenas um dia o Ibeg analisou e
indeferiu os 548 recursos impetrados por candidatos junto à banca
examinadora, todos reclamando de que suas provas de redação não
haviam sido corrigidas.
O Ministério Público descobriu
no decorrer das investigações que os processos sequer foram
enviados a Brasília. Os 548 recursos teriam sido analisados e
indeferidos por apenas dois funcionários.
Daí, o promotor fez as contas e
constatou que para indeferir todos os pedidos num dia só, cada um
dos dois funcionários teve 2,18 minutos para verificar cada recurso,
um recorde impossível de ser alcançado.
Outra descoberta do MPE: os
recursos ficaram na Secretaria Municipal de Educação e o Ibeg
apenas simulou te-los corrigidos. Segundo o promotor, o Ibeg fingiu a
correção porque já havia divulgado a lista dos aprovados e não
queria admitir qualquer erro no rentável negócio firmado com a
prefeitura.
Ibeg responde a
mais processos
Enquanto mais de 44 mil candidatos
amargam o prejuízo do dinheiro pago para se inscrever no concurso
anulado, já ultrapassa R$ 1,8 milhão o valor devido ao Ibeg. O alto
faturamento do Instituto é fruto da combinação feita com Maguito,
a de receber pelo serviço todo o dinheiro arrecadado com as
inscrições.
Como milhares de pessoas atenderam
ao chamado para tentar ocupar uma das 1.761 vagas oferecidas,
chegou-se a esse patamar de quase dois milhões de reais. Élvio
Vicente conseguiu também bloquear o repasse ao Ibeg do dinheiro
arrecado com o pagamento das inscrições. Contudo, o Instituto já
recebeu mais de R$ 500 mil, declara o promotor.
O Instituto é velho conhecido da
Justiça por fazer negociatas ilegais com outras prefeituras, a
exemplo de Águas Lindas e Formosa (GO). Em Aparecida de Goiânia
mesmo, o Ibeg foi impedido, na gestão anterior a de Maguito, de
realizar um concurso porque à época ficou constatado fraudes na
licitação.
No
processo do MPE são réus junto com com Maguito e o Ibeg, o
secretário municipal de Educação, Domingos Pereira, o
superintendente de Licitações, Luiz Augusto de Souza e o assessor
da superintendência, Rodrigo Costa.
Presidente do Ibeg tenta
hipotecar imóvel alheio
No processo o promotor Élvio
descreve um fato intrigante ocorrido quando, no intuito de não
prejudicar ainda mais os candidatos, firmou um TAC – Termo de
Ajustamento de Conduta com o Ibeg, a Secretaria municipal de Educação
e a Secretaria da Fazenda Pública Municipal, na tentativa de
moralizar o concurso e evitar o seu cancelamento.
Na assinatura do Ajustamento de
Conduta a presidente do Ibeg, Silvana Pereira, se comprometeu em dar
como garantia do cumprimento do acordo firmado com o MPE um imóvel
de sua propriedade, localizado em Águas Claras, no Distrito Federal.
Mas o promotor descobriu que
Maguito Vilela foi quem, rapidamente, mandou um servidor municipal a
Brasília, com todas as despesas bancadas pela Prefeitura, para
registrar a hipoteca no Cartório Imobiliário Marcelo Ribas. Essa
missão era exclusiva do Ibeg.
O funcionário da Prefeitura só
não registrou a hipoteca porque descobriu no cartório de Brasília
que o apartamento declarado por Silvana Pereira no Ministério
Público como sendo de sua propriedade, pertence a empresa Via
Engenharia S/A.
Secretário apresenta versão
Afirmando
que o concurso foi feito com lisura, o secretário Domingos Pereira
diz que vai recorrer da liminar junto ao Tribunal de Justiça. Porém,
o promotor Élvio Vicente assegura, as
denúncias de que Pereira ganharia 20% em cima do contrato milionário
com o Ibeg, e de que já existia relação de pessoas pré-aprovadas
no concurso podem ser a peça-chave para explicar a dispensa ilegal
da licitação.
Élvio Vicente ressalta que num
processo licitatório o Ibeg poderia ser desmascarado pelas demais
empresas concorrentes, por não ter idoneidade para realizar um
concurso público devido aos processos que já responde na Justiça.
O promotor qualifica de
“suspeitosíssima” a indicação pessoal do Ibeg pelo secretário
Domingos, a ligação do secretário com a presidente do Instituto, e
a pronta aceitação de Maguito Vilela em assinar o contrato. “São
fortíssimos os indícios de troca de favores entre a Prefeitura e o
Ibeg”, frisa Élvio Vicente.
O secretário Domingos Pereira
afirma que os cargos inexistentes serão criados agora pela Câmara
Municipal. O projeto já foi rejeitado uma vez pelos vereadores,
porque a aprovação dele fere a Lei de Responsabilidade Fiscal
No MP a presidente do Ibeg
ofereceu como garantia de moralizar o concurso em Aparecida um
apartamento que mentiu ser dela, e que na verdade pertence a Via
Engenharia S/A
Este instituto no final do ano passado fez também um convenio de 500mil reais com a fundação palmares para mapeamento e inventariado das comunidades quilombolas do Estado do Amapá.
ResponderExcluirNão é estranho esta situação?