15 de março de 2013

Bicheiro Cachoeira dava as cartas no Tocantins


Operação Monte Carlo

O bicheiro Carlinhos Cachoeira recuperou com juros e correção monetária a taxas estratosféricas os R$ 4,3 milhões que injetou nas eleições de 2010 no Tocantins. De acordo com a Polícia Federal, a empresa CRT, ligada ao mafioso, já sugou R$ 234 milhões dos cofres do Estado através de contratos fraudados.
As falcatruas ocorreram nos governos dos peemedebistas Marcelo Miranda e Carlos Gaguim e do tucano Siqueira Campos. O prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), também é acusado de envolvimento com a quadrilha de Cachoeira. O petista firmou seis contratos com a Delta Construtora, a preços superfaturados – R$ 119 milhões –, a maioria deles sem licitação.
O modus operandi de Carlinhos Cachoeira no Tocantins é o mesmo que ele utilizou para colocar no bolso o governo de Goiás e parte de seu secretariado: o bicheiro jogou dinheiro nas campanhas políticas do três últimos governadores e recuperou a grana quadruplicada via negócios desonestos.
Segundo a Receita Federal, a empresa CRT, ligada ao mafioso, “doou” R$ 1 milhão para a campanha de Marcelo Miranda ao Senado, em 2010 – o dinheiro não foi declarado pelo peemedebista – e R$ 4,3 milhões para a campanha do PSDB no Tocantins. Em contra partida a CRT já recebeu R$ 234 milhões dos cofres do Estado.
De Marcelo Miranda a CRT embolsou R$ 74,7 milhões, em apenas 15 meses. Carlos Gaguim pagou a empreiteira R$ 140,6 milhões e R$ 19,1 milhão foram pagos a CRT por Siqueira Campos, atual governador do Estado. Em troca das “doações” financeiras nas campanhas políticas, o bando de Carlinhos Cachoeira dava as cartas no Estado.
Os investimentos no Tocantins deram resultados altamente lucrativos para a quadrilha organizada do bicheiro. O governador Siqueira Campos pagou a doação fechando um acordo de R$ 14,7 milhões com a Delta Construtora. Segundo a PF, o mafioso é sócio oculto da empreiteira, contratada sem licitação.
Marcelo Miranda, Carlos Gaguim e o prefeito Raul Filho, de Palmas, também desviaram dinheiro público para empresas de Carlinhos Cachoeira – via contratos ilegais –, como contra partida pelas doações financeiras que receberam do bandido que hoje está preso no Complexo da Papuda, em Brasília.

 Cachoeira fatura mais de
R$ 100 milhões em Palmas
O prefeito Raul Filho (PT) é acusado de assinar seis contratos ilegais, de R$ 119 milhões, com a Delta Construtora, empreiteira ligada a Carlinhos Cachoeira; quatro deles feitos sem licitação. No mandato do petista a Delta já recebeu R$ 70,9 milhões da prefeitura de Palmas, através de acordos para fazer serviços de limpeza urbana. Por cair na teia do bicheiro, Raul Filho caiu agora na malha da Polícia, do MP e da CPMI de Cachoeira, em Brasília.
O primeiro contrato, de R$ 14 milhões, foi firmado em 2006 e passou por licitação, mas a legalidade do procedimento está sendo questionada pelo Ministério Público. Os outros contratos foram assinados entre a Delta e Raul Filho em 2007 (de R$ 6,7 milhões); em 2008 (de R$ 7 milhões); em 2008, (de R$ 8,1 milhões) e o último em 2009, quando a empreiteira abocanhou dos cofres públicos mais R$ 8,3 milhões.
Em Palmas a Delta seria comandada pelo ex-secretário de Infraestrutura, Jair Correa Júnior e pelo cunhado do prefeito, Pedro Duailibe, irmão da primeira dama e deputada estadual Solange Duailibe (PT). A denúncia foi feita a Polícia pelo engenheiro Luiz Marques, que era responsável pela fiscalização dos serviços da empreiteira na capital entre 2007 e 2011.
Um vídeo encontrado pela Polícia Federal mostra Raul Filho negociando com o grupo de Cachoeira durante a campanha de 2004, que o elegeu prefeito de Palmas pela primeira vez. Segundo a PF, o petista privilegiou a Delta para cumprir a sua parte no acordo previamente feito com a gangue do contraventor.

Bicheiro põe governadores no bolso
O esquema corrupto de Carlinhos Cachoeira já criou raízes no Tocantins. De acordo com a PF, um dos sócios do bicheiro, o empresário Rossine Aires Guimarães, já faturou R$ 234.444.617,62 dos cofres do Estado, desde 2003.
Segundo a PF, a atuação de Cachoeira no Tocantins começou no governo de Marcelo Miranda (PMDB), continuou na gestão do também peemedebista Carlos Gaguim – Gaguim é sócio de Rossine na CRT, uma das empresas do grupo do bicheiro –, e prossegue agora, no mandato Siqueira Campos (PSDB).
Rossine é dono de 82% das ações da Construtora Rio Tocantins (CRT), que também tem o nome de Construtora Vale do Lontra. A CRT aparece nas investigações da Operação Monte Carlo como uma das empreiteiras privilegiadas com dinheiro público no Estado.
Rossine, o sócio de Cachoeira, doou em seu nome R$ 3,7 milhões para a campanha eleitoral no Tocantins. Foram R$ 3 milhões para Siqueira Campos – o dinheiro foi entregue após a campanha eleitoral –, e R$ 500 mil para Carlos Gaguim.
A CRT também jogou R$ 500 mil na campanha de Gaguim e R$ 162 mil na campanha de Marcelo Miranda ao Senado. Segundo a PF, a CRT doou mais R$ 1 milhão para Marcelo Miranda, mas o dinheiro não foi declarado a Receita Federal.

Siqueira Campos ajuda Delta
  com mais de R$ 14 milhões
O governador Siqueira Campos virou réu em Ação Civil Pública por Improbidade Administrativa porque, dando continuidade ao reinado de Cachoeira no Tocantins, ignorou licitação e assinou contrato milionário com a Delta, de R$ 14,7 milhões.
A influência do mafioso Cachoeira no Governo do Tocantins é tão forte que até semana passada a agência Ginga Rara Propaganda, empresa ligada ao bicheiro, funcionava em uma casa de Eduardo Siqueira Campos (PSDB), na quadra 110 Sul.
Siqueirinha é filho do governador Siqueira Campos e atual secretário de Relações Institucionais do Estado. A descoberta de que a agência compõe o império empresarial de Carlinhos Cachoeira foi feita pelo Coaf, órgão de inteligência do Ministério da Fazenda.
Todos os políticos e empresários citados aqui negam qualquer envolvimento com o chefe da máfia do jogo do bicho e do caça níquel, Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A Delta Construtora, por exemplo, repete o discurso de que todos os contratos firmados estão dentro da legalidade. A PF, o MPF discordam das versões dos envolvidos com o bicheiro.

Pedro Duailibe nega comandar a Delta em Palmas diz que "como secretário, manteve as relações necessárias à função"

Rossine, sócio de Cachoeira, doou mais de R$ 3 milhões para a campanha do PSDB no Tocantins. Agradecido, o Governador Siqueira Campos assinou contrato com a Delta, sem licitação, por R$ 14 milhões

A agência de publicidade Ginga Rara, ligada a Cachoeira, foi contrata por R$ 5,2 milhões, pelo governo do Tocantins. Até semana passada, a empresa funcionava em casa que era de Siqueirinha, filho de Siqueira Campos

Documento do Ministério da Justiça denuncia o envolvimento do governador do Tocantins, Siqueira Campos, com o bicheiro Carlinhos Cachoeira

Rossine doou R$ 3 milhões para o candidato Siqueira Campos. Pela lei, as doações de pessoas físicas não podem ultrapassar 10% dos rendimentos brutos registrados no ano anterior. Seu pro-labore teria que alcançar estupendos R$ 4 milhões mensais. Nem Messi, o melhor jogador de futebol do mundo, ganha isso de salário

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