Operação Monte Carlo
Acusado pela Polícia Federal
de integrar a cúpula da máfia do jogo ilegal em Goiás, o senador
Demóstenes Torres (DEM) teria faturado R$ 50 milhões da organização
criminosa chefiada pelo amigo dele,Carlinhos Cachoeira. Segundo a PF,
o democrata ficava com 30% da arrecadação e pretendia jogar o
dinheiro como caixa dois numa futura campanha para governador do
Estado
Depois de nadar de braçada nas
águas turvas, e milionárias, do mafioso Carlos Augusto de Almeida
Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (DEM)
afunda num mar de corrupção sem precedentes na história do Senado.
Em Brasília, ninguém mais aposta um centavo numa possível
inocência do democrata e a cassação do seu mandato virou questão
de honra para o Congresso Nacional.
Segundo a Polícia Federal,
Demóstenes Torres faturava 30% do que era arrecadado pela máfia dos
caça níquéis e do jogo do bicho em Goiás. Como o esquema
arrecadou cerca de R$ 170 milhões nos últimos seis anos, a PF
calcula que Demóstenes embolsou, nesse curto período, a fortuna de
R$ 50 milhões.
No bando de Carlinhos Cachoeira, o
senador era o número 1 no “seleto” grupo dos 14 homens que
formavam a cúpula comandada pelo bicheiro. Os R$ 50 milhões que ele
recebeu de Cachoeira seriam usados como caixa dois numa futura
campanha para governador de Goiás, afirma a PF.
O lucrativo jogo do bicho de
Demóstenes só deu zebra depois que a Operação Monte Carlo,
deflagrada pela PF e Ministério Público Federal, desbaratou
aquadrilha e revelou os estreitos laços de amizade que o senador
mantinha com Cachoeira. O contraventor continua preso em Mossoró, no
Rio Grande do Norte.
Demóstenes não está sozinho na
corda bamba que virou o seu futuro político. Também são acusados
de envolvimentos suspeitos com o Don Corleone de Goiás o governador
Marconi Perillo (PSDB) e os deputados federais Carlos Alberto Leréia
(PSDB), Jovair Arantes (PTB), Sandes Júnior(PP) e Rubens Otoni (PT).
Até agora.
Marconi Perillo é acusado pela
Operação Monte Carlo de ter entregado o comando do Estado para o
chefe da quadrilha criminosa. Estranhamente, ele parece estar sendo
poupado e ainda não explicou a PF ao MPF por que o bicheiro lhe
mandava nomear e exonerar delegados e dava ordens em todos os outros
setores da administração tucana.
Delegado preso entrega
Demóstenes
Desde que foi desmascarado na
Operação Monte Carlo, Demóstenes Torres adotou a linha do “eu
não sabia”, “ele é bandido?!”, “ninguém me contou”,“só
fiquei sabendo agora”. Essa tática ele usou ao ser questionado
sobre a ligação com Cachoeira e os presentes caros que recebia do
contraventor: “Eu pensei que ele(Cachoeira) tivesse abandonado o
crime”. (sic!)
O castelo de areia de Demóstenes,
já com as estruturas abaladas, ruiu de vez quando o MPF descobriu
três relatórios elaborados pelo delegado da PF, Deuselino Valadares
dos Santos, preso junto com o bicheiro. Nos documentos, o delegado
relata que 50% da arrecadação do jogo clandestino iam para
Carlinhos Cachoeira e 30% eram entregues a Demóstenes Torres.
De posse do dinheiro, o senador
tinha a obrigação de remunerar também o então superintende de
Loterias da Agência Goiânia de Administração – Aganp, Marcelo
Siqueira. Ex-procurador, Siqueira assumiu o cargo por indicação de
Demóstenes e do deputado Leréia,também investigado pela PF.
A revelação é apocalíptica
para as pretensões políticas de Demóstenes e explica por que a
organização criminosa agia livremente em Goiás, no entorno de
Brasília e em mais cinco estados, incluindo o vizinho Tocantins: O
delegado Deuselino Valadares descobriu o esquema em 2006, mas
preferiu ser comprado pelo bicheiro a enviar para a Justiça o que
descobriu nas investigações.
Pego pela ambição
As descobertas feitas pelo
delegado Deuselino Tavares estão num Relatório Sigiloso de Análise
da Operação Monte Carlo, sob os cuidados do Núcleo de Inteligência
Policial da Superintendência da PF em Brasília.
O delegado foi preso, mas antes
disso usou as informações obtidas para fazer o seu pé demeia. Ele
comprou fazendas no Tocantins e montou, em sociedade com Cachoeira, a
empresa Ideal Segurança Ltda., registrada em nome da mulher, Luanna
Bastos Pires Valadares. A firma era usada para lavagem de dinheiro.
Afastado da PF desde o ano
passado, o delegado, que foi o responsável por investigar o
escândalo da Avestruz Master tinha, dentro da gang de Cachoeira, a
tarefa de informar aquadrilha sobre as ações que a Polícia
pretendia adotar contra o jogo do bicho e os caça níquéis.
Ironicamente, foi o relatório do
delegado Deuselino Tavares que esclareceu a ligação íntima de
Demóstenes com Cachoeira, estreita a ponto deles se falarem por
telefone 298 vezes em menos de um ano. Por causa de riqueza que
crescia rapidamente, Deuselino foi afastado das funções de
delegado, no ano passado. De investigador, passou a ser investigado e
já começou, ainda que a revelia, denunciar os cúmplices.
O alto preço do senador
Demóstenes Torres custou muito
caro a quadrilha,onde ficava com 30% da arrecadação, aos promotores
de Justiça de Goiás, hoje constrangidos com a desonestidade do ex
chefe do Ministério Público Estadual; ao Senado, que não vê a
hora de cassar o mandato do parlamentar e ao próprio DEM, que quer
livra-se do“incômodo”, como definiu o escândalo o presidente do
partido,
Parece ser desmedida a ambição
de Demóstenes. Além de faturar cerca de R$ 50 milhões em seis anos
– esse deve ser o maior prêmio já pago em caça níquéis e jogo
do bicho –, o senador recebeu de presente de casamento de Cachoeira
uma geladeira e um fogão importados, avaliados em quase R$ 50 mil.
Numa outra conversa, intitulada
pela PF “Carlinhos oferece aeronave para Demóstenes” Cachoeira
avisa ao senador que “o avião já está aí, já está te
esperando”. Demóstenes recebia presentes caríssimos de
Cachoeira, mas privilegiava o mafioso com informações das conversas
sigilosas que tinha em reuniões nas esferas do Legislativo,
Executivo e Judiciário.
O senador foi pego numa escuta
telefônica pedindo a Cachoeira R$ 3 mil para pagar despesas com taxi
aéreo. Até o seu tablet ipad quebrado – o produto custa em média,
R$ 2 mil –, Cachoeira teve de comprar outro e enviar a Demóstenes
como mais “um presente”.
A Polícia Federal descobriu que
Demóstenes ganhou de presente do “professor” Cachoeira um rádio
Nextel comprado nos Estados Unidos e habilitado em Miami. Além de
chique, importado, o aparelho servia para tentar impedir as escutas
do grampo telefônico da Polícia Federal.
O governo de Cachoeira
abraçava todo o Estado
No relatório do Ministério
Público Federal, composto de 859 páginas, está cristalino o
governo paralelo de Carlinhos Cachoeira em Goiás. Nas transcrições
dos diálogos que ele mantém com seus comparsas, e subordinados, a
exemplo do ex-vereador Wladmir Garcês, o bicheiro é chamado sempre
de “capitão” ou“professor'”, como preferia o senador
Demóstenes.
Nos Autos de número
13279-78.2011.4.01.3550, da 11ª Varada Justiça em Goiás, estão as
transcrições das conversas revelando os pagamentos de propinas que
Cachoeira fazia para dezenas de funcionários públicos de Goiás,
principalmente no âmbito de segurança Pública.
O delegado da Polícia Federal,
Deuselino Tavares, chamado de Neguinho nas conversas interceptadas
pela PF, também era bancado pelo chefe da máfia do jogo clandestino
no Estado. O relatório do MPF diz que ele usou dinheiro sujo da gang
para comprar a empresa Ideal Segurança Ltda..
Cópias da movimentação bancária
de Cachoeira mostram que o delegado pegava propina que variavam de R$
20 mil a R$ 80 mil. Enquanto isso, o tenente coronel Deovandir Frazão
recebia R$ 3 mil por mês para fazer vistas grossas a atuação da
quadrilha em Águas Lindas, no entorno de Brasília.
O relatório, de 859 páginas,
da PF e MPF, demonstra o poder de fogo do bicheiro Carlinhos
Cachoeira em todos os segmentos do governo de Goiás. Do seu jeito
torto, a margem da lei, o mafioso comandou o Estado ao lado do tucano
Perillo
Cachoeira denominava as
propinas pagas as autoridades de “assistência social”. Num
momento em que faltou dinheiro, o mafioso ordenou:“Paga o pessoal
da assistência social primeiro e empurra o pagamento das cartelas
(de jogo) pra depois”
Nenhum comentário:
Postar um comentário