Ex-funcionário de Carlinhos
Cachoeira, o jornalista Mino Pedrosa denuncia que o bicheiro pagou
propina de R$ 500 mil a Marconi Perillo (PSDB). A Polícia Federal
completa que o mafioso foi quem elegeu Marconi governador de Goiás e
por isso cobra dinheiro do Estado para o seu jornal, o “Estado de
Goiás”, cujo dono, Carlos Nogueira, seria apenas laranja do
mafioso
Operação Monte Carlo
A cada revelação do relatório
da Polícia Federal, fica mais difícil para o governador de Goiás,
Marconi Perillo (PSDB), arranjar argumentos convincentes de que não
integrava a organização criminosa chefiada pelo contraventor Carlos
Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeirana, preso durante a Operação
Monte Carlo.
Novos trechos de conversas
interceptadas pela Polícia Federal revelam que Carlinhos Cachoeira
pagou propina de R$ 500 mil a Marconi Perillo. A PF afirma que o
Governador recebeu o dinheiro no próprio Palácio das Esmeraldas, na
Praça Cívica.
Segundo a transcrição do
diálogo, os R$ 500 mil foram escondidos numa caixa de computador e
levados a Marconi pelo seu amigo, o ex-vereador Vladmir Garcês,
preso junto com o contraventor. A denúncia do pagamento de propina a
Marconi foi feita a PF pelo jornalista Mino Pedrosa. Ele trabalhou
para Cachoeira em 2004.
Em
outro diálogo grampeado pela PF, Cachoeira
revela ser o verdadeiro dono do jornal Estado
de Goiás e
cobra do ex-presidente do Detran, Edivaldo Cardoso, maiores verbas
publicitárias pelo apoio a eleição de Marconi. Na conversa, o
bicheiro afirma: "Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós".
Os diálogos esclarecem a forte influência do mafioso no governo do
tucano.
O Governador tenta se defender das
novas acusações, mas elas caíram como um dilúvio no ninho tucano
e Marconi vê afundar junto com o poder paralelo que Cachoeira
detinha em Goiás, as minguadas chances de disputar a reeleição.
Dar-se-á por satisfeito se concluir o mandato. O risco de prisão
para os envolvidos no bando do bicheiro aumenta a cada novo
escândalo.
“Estado de
Goiás”
é de
Cachoeira
No
diálogo em que Cachoeira lembra da sua participação na campanha
eleitoral de Marconi ele exige do então presidente do Detran,
Edivaldo Cardoso, uma fatia maior da verba publicitária do Órgão –
cerca de R$ 1,6 milhão, segundo Cardoso –, para aplicar no seu
jornal. Isso mesmo, segundo o relatório da Operação Monte Carlo, o
bicheiro é o verdadeiro dono do jornal Estado
de Goiás.
O
jornal Estado
de Goiás é
do mesmo grupo do Canal
5,
de Anápolis – contratado para transmitir as sessões da Câmara
Municipal. Segundo o relatório da PF, Carlos Nogueira, o Butina, que
se apresenta como o dono do grupo de comunicação, é apenas o
laranja do bicheiro.
Cachoeira
ficou irritado com Marconi quando descobriu que o jornal O
Anápolis,
que fazia oposição ao Governador, iria receber mais verbas
publicitárias do que o seu jornal, o
Estado de Goiás.
Carlos Nogueira, afirma a PF, é tão somente um laranja.
O bicheiro reclama que a partilha
da verba não está correta e deve ser revisada. Em seguida,
esbraveja para o ex-presidente do Detran: "Quem lutou e pôs o
Marconi lá fomos nós". O diálogo grampeado pela PF ocorreu no
dia dois de março de 2009.
A máfia governava Goiás
Não
é pelo calor da emoção que essa reporter divulga desde a primeira reportagem sobre a Operação Monte Carlo
que o poder de Carlinhos Cachoeira abraçava todos os segmentos do
Estado, sem exceção.
Também
não foi no calor da emoção que o juiz Paulo
Augusto Moreira Lima, da 11ª Vara Federal de Goiânia, escreveu na
sentença em que determinou a prisão do mafioso: “é assustador o
alcance dos tentáculos da organização criminosa comandada por
Cachoeira e a influência dele na nomeação de dezenas de pessoas
para ocupar funções públicas no Estado de Goiás”.
A PF não deixa dúvidas de que o
bicheiro dava ordens na Câmara de Vereadores de Goiânia – a Casa
já foi presidida por Vladmir Garcês –, na Assembléia
Legislativa, nas secretarias de Estado.
O
bicheiro ingeria em ações do Ministério Público através do irmão
do senador Demóstenes Torres (sem partido), o procurador geral de
Justiça Benedito Torres, e por meio do jornal Estado
de Goiás,
abocanhava até as verbas publicitárias do Governo de Marconi.
Em
um dos trechos da conversa com o ex-presidente do Detran, Cachoeira
questiona: "O jornal O
Anápolis
vai ganhar do Detran? Aquele jornal foi contra o Marconi o tempo
inteiro. O Butina (segundo a PF, laranja do Estado
de Goiás)
falou que viu o documento na mão do cara (do Governo)".
O ex-presidente do Detran nega a
veracidade da informação e tenta se justificar com o bicheiro: "Não
viu, não. Eu fechei isso ontem. Tinha televisões e outros jornais.
Eu pedi para incluir o seu jornal lá”.
A conversa termina com mais
uma ordem de Cachoeira: "O nosso tem que ser muito mais. Nós
colocamos o Marconi lá”. Edivaldo Cardoso abandonou o cargo no
Detran assim que estourou o escândalo da Operação Monte Carlo.
Cachoeira fala sobre
propina a
Marconi
Em uma das conversas interceptadas
pela Polícia Federal em 10 de junho de 2011, Cachoeira fala com
Geovani Pereira da Silva sobre o dinheiro enviado ao governador
Marconi. Segundo a PF, Geovani, que está foragido, é o responsável
pela contabilidade da quadrilha.
Depois de perguntar a Geovani se
ele contou o dinheiro, Cachoeira lhe ordena que lacre tudo (a caixa
de computador) e entregue a Gleyb – Gleyb Ferreira da Cruz, homem
de confiança do mafioso, segundo a PF e o MPF. Gleyb também
conversa com o ex-vereador Wladmir Garcez sobre a entrega do dinheiro
ao governador.
Wladmir diz a
Gleyb: “‘Tô’ esperando o tenente me ligar lá, ele falou: "ó,
Wladmir, o governador inclusive falou pra você daqui a pouco ‘vim
pra cá’ ", mas não falou que horas não. (O tenente citado
na conversa ainda não foi identificado pela Polícia Federal).
Todas
as conversas gravadas entre Cachoeira e integrantes de seu bando
integram o
volumoso relatório da PF e do Ministério Público Federal. Em
março, logo após ser deflagrada a Operação Monte Carlo, Edna Santos obteve,
com exclusividade, as
cópias dos processos. A exemplo do que se vangloria o
resto da imprensa brasileira.
Na máfia, uma mão lava a
outra
O governador Marconi Perillo nega
envolvimento com Carlinhos Cachoeira. Ele apresenta a mesma versão
dada pelo senador Demóstenes Torres, o procurador geral de Justiça
de Goiás, Benedito Torres, e todos os demais acusados pela PF e MPF
de envolvimento com crime organizado do bicheiro.
As conversas
interceptadas pela PF e MPF, contudo, mostram o ex-vereador Wladmir
Garcês – correligionário e amigo de Marconi; e preso junto com o
Cachoeira – , negociando cargos no governo do tucano para
agasalhar os apadrinhados do Don Corleone de Goiás. O teor do
diálogo também está no processo, com cópias exclusivas para essa repórter, a revista Época, IstoÉ, Jornal Nacional, Le Monde....
Em outro telefonema, interceptado
pela PF em 27 de abril do ano passado, Cachoeira se mostra irritado
com Garcez. Ele reclama do desempenho do secretário de
Infraestrutura, Wilder Morais, que teria nomeado desafetos do
bicheiro para cargos no Detran-GO.
“Um bosta
consegue emplacar um cara que a gente estava boicotando! Vai falar
que é competência de quem? Dele, né? Porque não deu um centavo
para o Marconi", queixa-se o bicheiro ao cúmplice Wladmir
Garcês.
O fato é que a Operação Monte
Carlo da Polícia Federal revelou o envolvimento do crime organizado
em todas as esferas de Poder em Goiás: Executivo, Legislativo,
Judiciário e Ministério Público.
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