15 de março de 2013

Cachoeira pode destruir ninho do tucano Marconi


Ex-funcionário de Carlinhos Cachoeira, o jornalista Mino Pedrosa denuncia que o bicheiro pagou propina de R$ 500 mil a Marconi Perillo (PSDB). A Polícia Federal completa que o mafioso foi quem elegeu Marconi governador de Goiás e por isso cobra dinheiro do Estado para o seu jornal, o “Estado de Goiás”, cujo dono, Carlos Nogueira, seria apenas laranja do mafioso

Operação Monte Carlo

A cada revelação do relatório da Polícia Federal, fica mais difícil para o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), arranjar argumentos convincentes de que não integrava a organização criminosa chefiada pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeirana, preso durante a Operação Monte Carlo.
Novos trechos de conversas interceptadas pela Polícia Federal revelam que Carlinhos Cachoeira pagou propina de R$ 500 mil a Marconi Perillo. A PF afirma que o Governador recebeu o dinheiro no próprio Palácio das Esmeraldas, na Praça Cívica.
Segundo a transcrição do diálogo, os R$ 500 mil foram escondidos numa caixa de computador e levados a Marconi pelo seu amigo, o ex-vereador Vladmir Garcês, preso junto com o contraventor. A denúncia do pagamento de propina a Marconi foi feita a PF pelo jornalista Mino Pedrosa. Ele trabalhou para Cachoeira em 2004.
Em outro diálogo grampeado pela PF, Cachoeira revela ser o verdadeiro dono do jornal Estado de Goiás e cobra do ex-presidente do Detran, Edivaldo Cardoso, maiores verbas publicitárias pelo apoio a eleição de Marconi. Na conversa, o bicheiro afirma: "Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós". Os diálogos esclarecem a forte influência do mafioso no governo do tucano.
O Governador tenta se defender das novas acusações, mas elas caíram como um dilúvio no ninho tucano e Marconi vê afundar junto com o poder paralelo que Cachoeira detinha em Goiás, as minguadas chances de disputar a reeleição. Dar-se-á por satisfeito se concluir o mandato. O risco de prisão para os envolvidos no bando do bicheiro aumenta a cada novo escândalo.

Estado de Goiás”
  é de Cachoeira
No diálogo em que Cachoeira lembra da sua participação na campanha eleitoral de Marconi ele exige do então presidente do Detran, Edivaldo Cardoso, uma fatia maior da verba publicitária do Órgão – cerca de R$ 1,6 milhão, segundo Cardoso –, para aplicar no seu jornal. Isso mesmo, segundo o relatório da Operação Monte Carlo, o bicheiro é o verdadeiro dono do jornal Estado de Goiás.
O jornal Estado de Goiás é do mesmo grupo do Canal 5, de Anápolis – contratado para transmitir as sessões da Câmara Municipal. Segundo o relatório da PF, Carlos Nogueira, o Butina, que se apresenta como o dono do grupo de comunicação, é apenas o laranja do bicheiro.
Cachoeira ficou irritado com Marconi quando descobriu que o jornal O Anápolis, que fazia oposição ao Governador, iria receber mais verbas publicitárias do que o seu jornal, o Estado de Goiás. Carlos Nogueira, afirma a PF, é tão somente um laranja.
O bicheiro reclama que a partilha da verba não está correta e deve ser revisada. Em seguida, esbraveja para o ex-presidente do Detran: "Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós". O diálogo grampeado pela PF ocorreu no dia dois de março de 2009.

A máfia governava Goiás
Não é pelo calor da emoção que essa reporter divulga desde a primeira reportagem sobre a Operação Monte Carlo que o poder de Carlinhos Cachoeira abraçava todos os segmentos do Estado, sem exceção.
Também não foi no calor da emoção que o juiz Paulo Augusto Moreira Lima, da 11ª Vara Federal de Goiânia, escreveu na sentença em que determinou a prisão do mafioso: “é assustador o alcance dos tentáculos da organização criminosa comandada por Cachoeira e a influência dele na nomeação de dezenas de pessoas para ocupar funções públicas no Estado de Goiás”.
A PF não deixa dúvidas de que o bicheiro dava ordens na Câmara de Vereadores de Goiânia – a Casa já foi presidida por Vladmir Garcês –, na Assembléia Legislativa, nas secretarias de Estado.
O bicheiro ingeria em ações do Ministério Público através do irmão do senador Demóstenes Torres (sem partido), o procurador geral de Justiça Benedito Torres, e por meio do jornal Estado de Goiás, abocanhava até as verbas publicitárias do Governo de Marconi.
Em um dos trechos da conversa com o ex-presidente do Detran, Cachoeira questiona: "O jornal O Anápolis vai ganhar do Detran? Aquele jornal foi contra o Marconi o tempo inteiro. O Butina (segundo a PF, laranja do Estado de Goiás) falou que viu o documento na mão do cara (do Governo)".
O ex-presidente do Detran nega a veracidade da informação e tenta se justificar com o bicheiro: "Não viu, não. Eu fechei isso ontem. Tinha televisões e outros jornais. Eu pedi para incluir o seu jornal lá”. 
A conversa termina com mais uma ordem de Cachoeira: "O nosso tem que ser muito mais. Nós colocamos o Marconi lá”. Edivaldo Cardoso abandonou o cargo no Detran assim que estourou o escândalo da Operação Monte Carlo.

Cachoeira fala sobre
 propina a Marconi
Em uma das conversas interceptadas pela Polícia Federal em 10 de junho de 2011, Cachoeira fala com Geovani Pereira da Silva sobre o dinheiro enviado ao governador Marconi. Segundo a PF, Geovani, que está foragido, é o responsável pela contabilidade da quadrilha.
Depois de perguntar a Geovani se ele contou o dinheiro, Cachoeira lhe ordena que lacre tudo (a caixa de computador) e entregue a Gleyb – Gleyb Ferreira da Cruz, homem de confiança do mafioso, segundo a PF e o MPF. Gleyb também conversa com o ex-vereador Wladmir Garcez sobre a entrega do dinheiro ao governador.
Wladmir diz a Gleyb: “‘Tô’ esperando o tenente me ligar lá, ele falou: "ó, Wladmir, o governador inclusive falou pra você daqui a pouco ‘vim pra cá’ ", mas não falou que horas não. (O tenente citado na conversa ainda não foi identificado pela Polícia Federal).
Todas as conversas gravadas entre Cachoeira e integrantes de seu bando integram o volumoso relatório da PF e do Ministério Público Federal. Em março, logo após ser deflagrada a Operação Monte Carlo, Edna Santos obteve, com exclusividade, as cópias dos processos. A exemplo do que se vangloria o resto da imprensa brasileira.

Na máfia, uma mão lava a outra
O governador Marconi Perillo nega envolvimento com Carlinhos Cachoeira. Ele apresenta a mesma versão dada pelo senador Demóstenes Torres, o procurador geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres, e todos os demais acusados pela PF e MPF de envolvimento com crime organizado do bicheiro.
As conversas interceptadas pela PF e MPF, contudo, mostram o ex-vereador Wladmir Garcês – correligionário e amigo de Marconi; e preso junto com o Cachoeira – , negociando cargos no governo do tucano para agasalhar os apadrinhados do Don Corleone de Goiás. O teor do diálogo também está no processo, com cópias exclusivas para essa repórter, a revista Época, IstoÉ, Jornal Nacional, Le Monde....
Em outro telefonema, interceptado pela PF em 27 de abril do ano passado, Cachoeira se mostra irritado com Garcez. Ele reclama do desempenho do secretário de Infraestrutura, Wilder Morais, que teria nomeado desafetos do bicheiro para cargos no Detran-GO.
Um bosta consegue emplacar um cara que a gente estava boicotando! Vai falar que é competência de quem? Dele, né? Porque não deu um centavo para o Marconi", queixa-se o bicheiro ao cúmplice Wladmir Garcês.
O fato é que a Operação Monte Carlo da Polícia Federal revelou o envolvimento do crime organizado em todas as esferas de Poder em Goiás: Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público.




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