14 de março de 2013

Maguito Vilela contrata garis a peso de ouro



A prefeitura está pagando mais de R$ 3.500,00 por mês por varredor de rua particular contratado da empresa carioca Vital Engenharia; já o salário dos concursados do município é de R$ 550,00. O esquema dos garis superfaturados virou processo no Ministério Público

Corrupção em Aparecida

A poeira das ruas de Aparecida de Goiânia pode resultar em negócio bastante lucrativo, pelo menos para a empresa Vital Engenharia Ambiental S/A, com sede no Rio de Janeiro. O prefeito Maguito Vilela (PMDB) está pagando a empreiteira carioca R$ 245.600,00 por mês pelo serviço de 70 garis particulares.
Eles varrem apenas algumas avenidas de três bairros – parte do centro da cidade, do Garavelo e região da Avenida Rio Verde –, aproximadamente quatro mil quilômetros varridos por mês. Os 70 garis são fornecidos pela Vital Engenharia desde o dia 1º de março desse ano.
O Ministério Público, que investigou o escândalo e está processando o prefeito, fez os cálculos: Maguito paga mais de R$ 3.500,00 por varredor particular, enquanto que um gari lotado na Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Aparecida tem salário de R$ 550,00. Com os R$ 245.600,00 que Maguito paga todo mês a Vital pelos 70 varredores, daria para pagar 446 garis concursados.
A prefeitura tem 678 varredores de rua em seu quadro de pessoal, mas o MPE descobriu que muitos estão em outros órgãos, atuando em funções que nada tem a ver com limpeza urbana. “As transferências são feitas por indicação política”, confessou o secretário de Desenvolvimento Urbano, Samuel Borges de Oliveira, em depoimento a 9ª Promotoria de Justiça.
Entre realizar concurso público para admitir mais garis, ou recrutar os que estão a disposição de outros órgãos, Maguito Vilela preferiu contratar os varredores da empreiteira carioca a preço astronômico. A Vital Engenharia não passou pelo crivo da licitação para fechar o vantajoso negócio com a prefeitura.
Para se ter uma idéia da disparidade de preço, basta saber que um médico de Aparecida tem de cumprir plantão de 12 horas para ganhar R$ 800,00, ou dobrar a carga horária se quiser receber R$ 1.600,00. A Informação é do Departamento de Recursos Humanos da Secretaria Municipal de Saúde.

Promotor Élvio Vicente processa
prefeito, empreiteira e município
O esquema dos 70 garis particulares foi investigado pelo Ministério Público, onde o promotor de Justiça Élvio Vicente da Silva, titular da 9ª Promotoria (Defesa do Patrimônio Público) acusa, os garis foram contratados a preços superfaturados para beneficiar financeiramente a empresa carioca.
Élvio Vicente propôs duas ações civis públicas separadamente, uma em que Maguito Vilela figura como réu por ato de improbidade administrativa, e outra contra o município e a Vital Engenharia. As duas ações tramitam na Vara da Fazenda Pública da Comarca de Aparecida.
O processo contra Maguito deu entrada no Judiciário no último dia nove, sob o número 331225-57.2010. A Ação com pedido de liminar, proposta contra a empreiteira e o município, foi protocolada um dia depois (10 de setembro) sob o número 3312-15.2010. Se condenado por improbidade, o prefeito perde o mandato e tem os direitos políticos suspensos.
Dentre outras medidas, o Ministério Público quer a anulação do contrato firmado com a Vital Engenharia no valor global de mais de R$ 9 milhões; a suspensão dos pagamentos efetuados a empreiteira, e que Maguito fique proibido de contratar empresas de limpeza para fornecer varredores de rua, devido a prefeitura já possuir servidores para o trabalho.

Contrato com a empresa
ultrapassa R$ 9 milhões
Maguito Vilela já responde a outra Ação Civil Pública por Improbidade Administrativa (número 187513-09.2010) por ter fechado acordo com a Vital Engenharia no valor de R$ 9.047.229,60, sem fazer licitação, para a empresa limpar a cidade por seis meses.
Trata-se do contrato 047/2010, firmado em 25 de fevereiro de 2010. Maguito tentou justificar a falta de licitação alegando situação emergencial na limpeza da cidade, mas não convenceu o Ministério Público.
Élvio Vicente afirma que o contrato é ilegal, superfaturado e causa grandes prejuízos ao erário e as empresas goianas que não puderam oferecer preço mais baixo, devido não ter sido realizada a concorrência pública.
O promotor de Justiça afirma que nesse negócio também houve superfaturamento de preço. Ele verificou que em outros municípios com mesmas as características de Aparecida, serviço semelhante não custa mais do que R$ 300 mil.
Graças a esse contrato ilegal é que a empreiteira carioca embolsa todo mês R$ 1.507.871,60 dos cofres de Aparecida. A partir de 1º de março desse ano, R$ 245.600,00 do montante passou a ser destinado ao pagamento dos 70 gari. Cada um deles tem um custo operacional superior a R$ 3.500,00 mensais para a prefeitura.
Élvio Vicente acusa categoricamente o prefeito Maguito de ferir o princípio da legalidade ao não promover concurso público, acrescentando que o dinheiro pago a empresa é absurdamente superior aos contratos anteriores firmados para a realização do mesmo tipo de serviço. “O benefício obtido pela Vital nesse contrato é incontestável”, frisa.


Licitação sob suspeita
O Ministério Público quer agora anular a licitação que a prefeitura pretende fazer para contratar os serviços de uma empresa de limpeza urbana, processo que já conta com 33 firmas participantes, segundo informou ao MPE o superintendente de Licitações de Aparecida, Luiz Augusto de Sousa.
A anulação foi requerida ao Judiciário depois que o promotor Élvio Vicente descobriu, o preço que a prefeitura estabeleceu pagar por mês a empresa vencedora da concorrência é curiosamente o mesmo valor que o município já paga mensalmente a empreiteira carioca.
O Edital de Licitação número 007/2010, publicado no último mês de junho, não deixa dúvidas sobre a curiosa coincidência de preço: a firma que ganhar a concorrência vai receber por mês R$ 1.507.871,60. É justamente quanto ganha a Vital, contratada sem licitação.
Na Ação, Élvio Vicente dispara que “o desleixo da prefeitura é tão grande que o superintende de Licitações não sabe quantos garis a Vital fornece ao município, quando declarou que acreditava ser em torno de 300 varredores”. Quem contou que são apenas 70 garis foi um dos representantes da Vital em Aparecida.


transferências de servidores
atendem pedidos de políticos
A revelação acima foi feita pelo próprio secretário de Desenvolvimento Urbano, Samuel Borges de Oliveira, em depoimento a 9ª Promotoria de Justiça. Segundo ele, 148 servidores, dos 943 lotados na Pasta – incluindo 678 garis – estão a disposição de outros órgãos. “Algumas transferências ocorreram por indicação política”, confessou.
O secretário declarou que muitos vereadores lhe pedem para transferir servidores da limpeza urbana para outros órgãos e acrescentou que não sabe quantos varredores a Vital Engenharia fornece para a prefeitura, “porque a questão não está sob o seu domínio”. (sic)
Fato é que existem servidores da limpeza urbana desviados para outras funções e que hoje trabalham na Câmara Municipal, delegacias de Polícia, distritos policiais, fórum, Procuradoria do Município; saúde pública. O Cais Garavelo, por exemplo, abriga 15 desses servidores, muitos transferidos por interferência política, segundo confessou o secretário Samuel de Oliveira.
O promotor Élvio Vicente é taxativo: “a transferência de servidores configura desvio de função, é ilegal, imoral e acarreta enormes prejuízos para os cofres de Aparecida”. Ele ressalta que enquanto a prefeitura paga a Vital R$ 245.600,00 por 70 garis particulares, paga a 943 servidores da Secretaria de Desenvolvimento Urbano a quantia de R$ 680.652,52.
Trocando em miúdos, o dinheiro que a prefeitura repassa mensalmente a empreiteira carioca é quase a metade de toda a folha de pagamento da Secretaria de Desenvolvimento Urbano.

Quando o lixo vira luxo
O contrato ilegal, com preço superfaturado e sem licitação, firmado com a Vital Engenharia, não é a primeira negociata que Maguito Vilela faz com empresas de limpeza urbana. Graças a um contrato sem licitação, a Construban Logística Ambiental Ltda., com sede em São Paulo, embolsou R$ 1.813.750,02 para limpar a cidade por 180 dias.
A empreiteira paulista firmou três contratos consecutivos com o prefeito e em nenhum deles ela passou pelo crivo da licitação. Nesse caso também, Élvio Vicente considerou os contratos ilegais, imorais e superfaturados. No total, a Construban Logística faturou mais de R$ 4 milhões dos cofres de Aparecida.
Quando terminou o primeiro contrato com a Construban – em que ela recebeu quase R$ 2 milhões para limpar Aparecida por seis meses –, o prefeito firmou um novo acordo com a empreiteira, que faturou mais R$ 1.130.700,00, para fazer a limpeza urbana por três meses. Mais uma vez Maguito Vilela alegou “situação emergencial” para não fazer licitação e celebrar o contrato, de número 553, datado de 02 de outubro de 2009.
Quando venceu os três meses, Maguito celebrou o Termo Aditivo 401/2009, em 30 de dezembro do ano passado, prorrogando o negócio com a empresa paulista e desrespeitando o próprio contrato, que tinha caráter de improrrogável. Graças a artimanha, a Construban ganhou mais R$ 1.130.700,00 para limpar a cidade por 90 dias.
O caso dos 70 garis contratados a peso de ouro só vem confirmar o que Poderes escreveu nas reportagens que já publicou sobre o assunto: na gestão de Maguito Vilela, o lixo de Aparecida de Goiânia está virando luxo empresarial.


O promotor de Justiça Élvio Vicente requer ao Judiciário que obrigue o município a realizar concurso público para garis no prazo máximo de 180 dias. Em caso de desobediência, a prefeitura deve pagar multa diária de R$ 5 mil

Em Aparecida a Vital Engenharia está funcionando como verdadeira substituta da Secretaria de Desenvolvimento Urbano na área de limpeza pública (Élvio Vicente, promotor de Justiça)

Algumas transferências de servidores da limpeza urbana para outros órgãos são feitas atendendo pedidos de políticos, inclusive vereadores (Samuel de Oliveira, secretário de Desenvolvimento Urbano de Aparecida)

Se Maguito tivesse realizado concurso para garis em 2009, quando assumiu o mandato, estaria economizando muito dinheiro para o município. Os contratos sem licitação com empresas de limpeza só servem para beneficiar apadrinhados (Élvio Vicente)

É inadmissível Maguito ignorar concurso público e contratar empresas privadas a preços astronômicos para suprir a sua própria omissão enquanto prefeito (Élvio Vicente)











































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