Corrupção em Aparecida de Goiânia
Acusado
de privilegiar a Delta Construções com contratos milionários e
ilegais, o
prefeito Maguito Vilela (PMDB) pode ir pra cadeia. O pedido foi feito
pelo Ministério Público,
que requer ainda a suspensão dos direitos políticos do peemedebista
e o bloqueio de seus bens. A Delta é ligada ao bicheiro Carlinhos
Cachoeira, de quem o prefeito é padrinho de casamento
Enquanto
a população da maioria dos bairros de Aparecida de Goiânia engole
poeira em tempo de seca e atola na lama no período chuvoso, o
prefeito Maguito Vilela (PMDB) usa o dinheiro público para engordar
as finanças da Delta Construções com contratos milionários e
ilegais.
Segundo
o Ministério Público, o contrato 685/2010 que a Delta firmou com o
prefeito no valor de R$ 51.476.090,40, para coleta de lixo, é fruto
de uma licitação de cartas marcadas. A falcatrua garante a
empreiteira faturar R$ 857.934,84 por mês dos cofres de Aparecida.
Além
disso, o preço do contrato é superfaturado. Com a artimanha de um
Termo Aditivo, a Delta tem o direito de receber mais R$ 4.966.908.30
em cima dos R$ 51,4 milhões, totalizando R$ 56.442.998,70. O valor
está acima do que cobrou a empresa segunda colocada na concorrência,
a Leão Ambiental. Ela faria o mesmo serviço por R$
52.599.400,00.
Desde
2010 Maguito já firmou quatro contratos fraudulentos com a Delta –
juntos, eles somam R$ 57.047.204,20 –, para
aluguel de caminhões e máquinas e serviços na área de limpeza
urbana.
As duas empresas que participaram da licitação de cartas marcadas,
a Leão Ambiental e a Vital Engenharia, entraram na Justiça contra o
certame viciado.
A
Delta tem como sócio oculto o bicheiro Carlos
Augusto
de Almeida Ramos, o Carlinhos
Cachoeira, de quem Maguito é amigo e padrinho de casamento. Os
privilégios que a empreiteira conquistou em Aparecida na gestão do
peemedebista reforçam as
acusações do envolvimento dele com o contraventor, feitas pela
Polícia Federal, na Operação Monte Carlo.
“A Delta trabalhou de graça 60 dias em Aparecida mas, em contra partida, ela ganhou a licitação de R$ 51,4 milhões, mais um aditivo de quase R$ 5 milhões, assinando o contrato milionário 15 dias depois. Com a tramóia, pagou-se a dívida da empreiteira” (Análise dos promotores que pedem a prisão de Maguito Vilela)
MP
quer a prisão do prefeito
O
esquema corrupto patrocinado pelo prefeito Maguito para beneficiar a
empreiteira de Carlinhos Cachoeira com contratos milionários e
fraudulentos, está detalhado na Ação Civil Pública por
Improbidade Administrativa proposta por quatro promotores de Justiça
e que espera ser julgada pelo juiz Gustavo Dalul Faria.
A
Ação é assinada pelos promotores Élvio Vicente da Silva e Ana
Paula Antunes Vieira Nery, titulares da 9ª e 14ª Promotorias de
Justiça de Aparecida, em conjunto com os promotores Fernando Krebs e
Villis Marra Gomes, da 57ª e 78ª Promotorias de Justiça de
Goiânia; todas da área de Defesa do Patrimônio Público.
Os
quatro promotores de Justiça requerem ao judiciário a cassação do
mandato de Maguito Vilela, a cassação de seus direitos políticos
por até oito anos, o bloqueio de seus bens no valor de R$ 500 mil,
além de pagamento de multa.
O
prefeito já virou cliente vip do MP, onde é campeão de processos
por crimes de improbidade administrativa, e pode nem disputar a
eleição deste ano. É que os quatro promotores de Justiça entraram
com a Representação 317/2012, requerendo a prisão de Maguito
Vilela.
Maguito é acusado de falsidade
ideológica, dispensa ilegal de licitação, fraude em licitação,
crime de responsabilidade por deixar de prestar contas e
prevaricação. Se condenado, o peemedebista pode pegar até cinco
anos de prisão. Cabe agora a Procuradoria Especializada do MP
decidir se oferece ou não denúncia criminal contra o prefeito.
Há cerca de um
mês Maguito se mantém na prefeitura a custa da liminar que
conseguiu depois que o promotor Élvio Vicente requereu o afastamento
imediato dele do cargo, por outra falcatrua envolvendo a Delta
Construções e a Construtora Almeida Neves.
Na Ação, o prefeito é denunciado por contratação
irregular de veículos utilizados para a limpeza urbana.
“Nem um papalégua ou carro de fórmula 1 correriam tão velozmente para, num único dia, arranjar tudo a fim de dispensar licitação e assinar contrato emergencial, e ilegal, com a Delta construções” (Promotores ironizam artimanha de Maguito na contratação da empreiteira)
Delta
trabalhou de 'graça'
para
'vencer' concorrência
No
afã de ajudar o afilhado Carlinhos Cachoeira, Maguito firmou com a
Delta o Contrato Emergencial número 679/2010, no valor de R$ 604
mil, para limpeza da cidade por 30 dias. A Delta executou o trabalho,
mas o prefeito não pagou pelo serviço e engavetou o contrato para
fugir da fiscalização do Tribunal de Contas dos Municípios.
Para
os promotores que ajuizaram a Ação, a cobrança dos R$ 604 mil
estão embutidos no contrato resultante da licitação fraudada. “Foi
uma verdadeira troca de favores”, frisam. A empreiteira de fato
venceu a disputa e assinou o contrato milionário 15 dias depois de
trabalhar “de graça” e informalmente em Aparecida. De quebra,
ainda conseguiu um termo Aditivo – número 11/2012 –, de quase R$
5 milhões, o que fez subir o valor do contrato para R$ 56,4 milhões.
O preço é bem superior ao apresentado pela segunda colocada, a Leão
Ambiental, que foi de R$ 52,6 milhões.
Oito
empresas foram impedidas de participar da famigerada licitação.
Restou para a vencedora Delta concorrer apenas com a Leão Ambiental
e a Vital Engenharia. Inconformadas, algumas empresas denunciaram
vícios no processo licitatório perante o TCM e propuseram ações
judiciais contra a prefeitura junto a Abrale - Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.
Figuram
como réus, ao lado de Maguito Vilela, o secretário de Meio
Ambiente, Juliano Tadeu Moreira Cardoso, o ex-assessor jurídico da
Superintendência de Licitações e pregões da Prefeitura, Rodrigo
Silva Costa e o Município, representado pelo procurador Tarcísio
Francisco dos Santos, correligionário de Maguito e seu fiel
companheiro de processos na 9ª Promotoria de Justiça.
Para
a Delta Construções, também denunciada na Ação, os promotores
requerem pagamento de multa de R$ 20 milhões. Estão sendo
processados ainda o ex-diretor da empreiteira, Cláudio Abreu, e mais
dois representantes da empresa, Raphael de Mendonça e Sérgio de
Souza Lima.
Documento prova que a Delta de Carlinhos Cachoeira trabalhou 'de graça' em Aparecida em novembro e dezembro de 2010. Para o MP, o 'presente' está custando mais R$ 56,4 milhões aos cofres da prefeitura
Ligações perigosas
A denúncia oferecida agora pelo
MP contra o prefeito de Aparecida não registra o primeiro
envolvimento dele com Carlinhos Cachoeira. Além de já responder a
outro processo recente, também por irregularidade em contrato com a
Delta, em 1996, quando era o governador de Goiás, Maguito Vilela
contratou uma empresa do bicheiro, a Gerplan – Gerenciamento e
Planejamento Ltda., para administrar a Loteria do Estado de Goiás -
LEG.
A exemplo do que acontece hoje com
a Delta, a Gerplan também foi beneficiada por um Termo Aditivo,
firmado em 1998, estendendo o seu controle também sobre a
exploração de videoloterias, dando margem para a legalização dos
caça-níquéis do bicheiro Cachoeira.
Afundada numa cachoeira de
corrupção, a época a LEG foi investigada pelo MP e pela Delegacia
de Estelionato porque havia pessoas que ganhavam na loteria até mais
de 30 vezes no mês – eles ficaram conhecidos como os “discípulos
de João Alves”.
Curiosamente, o caso dos
ganhadores da LEG, na década de 90, foi investigado pelo promotor de
Justiça Umberto Machado de Oliveira, que recentemente se licenciou
do MP para assumir o comando da Semarh - Secretaria de Meio Ambiente
e Recursos Hídricos.
Depois de ficar dois meses como
secretário do governo Marconi, o promotor de Justiça Umberto
Machado deixou a Semarh por decisão do Conselho Superior do
Ministério Público, que anulou a licença que havia lhe concedido
para se juntar a equipe de Perillo, outro acusado de envolvimento com
o bicheiro Cachoeira.
Maguito
rebate acusações
Maguito Vilela nega favorecimento
a Delta Construções e alega estar sendo perseguido pelo promotor
Élvio Vicente. Apesar de o processo que pede a sua prisão ter sido
ajuizado por quatro promotores, o prefeito diz que Élvio é o cabeça
de tudo”.
Numa das conversas transcritas
pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, Carlinhos Cachoeira
fala com um homem não identificado que foi procurado por Maguito
Vilela. Na conversa, o bicheiro diz que o prefeito está com medo
porque “um tal de Élvio” está “pegando no pé dele demais”.
Élvio Vicente da Silva é o
titular da 9ª Promotoria de Justiça. Promotor atuante, é o autor
de diversas ações civis públicas contra Maguito e vários de seus
secretários, todas por atos de improbidade administrativa.
Maguito diz estar sendo perseguido
pelo promotor, esquecendo-se de que Élvio Vicente tinha a mesma
postura quando defendia o patrimônio público de Aparecida nas
gestões dos ex-prefeitos Ademir Menezes e José Macedo. Os dois
também figuraram como réus em processos movidos pela 9ª Promotoria
de Justiça.
O prefeito nega também ter
privilegiado Carlinhos Cachoeira quando passou para a empresa dele o
comando da LEG, em 1995. Em declaração recente, o prefeito fala que
a Gerplan foi escolhida dentro de um processo licitatório honesto e
que ela atendia todos os requisitos para disputar e vencer a
concorrência.
O prefeito alega que não sabia
quem era o proprietário da Gerplan – o bicheiro Carlinhos
Cachoeira –, e acrescenta que a licitação foi correta e aprovada
pelo Tribunal de Contas de Goiás e pela Procuradoria do Estado.
“Ganhou uma empresa chamada Gerplan e ninguém na época sabia de
atitudes ilícitas”, diz o peemedebista.
“A
licitação foi de cartas marcadas para favorecer a Delta. A
empreiteira visa lucros e não ficaria no prejuízo de mais de meio
milhão se não tivesse a certeza de receber uma grande vantagem em
troca” (Promotores
que processam o prefeito e a empreiteira)
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