15 de março de 2013

Goiás sem fôlego na "Cachoeira" da vergonha



A Polícia Federal acusa o senador Demóstenes Torres (sem partido), de tráfico de influência no Ministério Público de Goiás, chefiado pelo irmão dele, Benedito Torres, para atender interesses do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Segundo a PF, o presidente da AGMP, Alencar Vital, e o procurador-geral do Estado, Ronald Bicca, também ajudavam o contraventor a pedido de Demóstenes. Bicca entregou o cargo após as denúncias

Operação Monte Carlo

O Ministério Público de Goiás foi atingido pela avalanche de lama de corrupção que escorre do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e cobre o Estado desde a prisão dele, no final de fevereiro passado, durante a Operação Monte Carlo.
Segundo a Polícia Federal, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM e sem partido) praticava tráfico de influência na cúpula do MP goiano para defender os interesses do chefe da máfia dos caça níquéis e do jogo do bicho em Goiás. A instituição é chefiada por um irmão de Demóstenes, o procurador geral de Justiça, Benedito Torres.
Os telefonemas grampeados pela PF revelam que Demóstenes Torres tentava proteger as ações da organização criminosa de Cachoeira usando de sua influência também junto ao promotor de Justiça Alencar José Vital, presidente da AGMP – Associação Goiana do Ministério Público, e ao procurador-geral do Estado, Ronald Bicca.
O senador é flagrado nas interceptações telefônicas garantindo ao bicheiro, de quem é amigo declarado, interferir diretamente em procedimentos internos do Ministério Público. Nos 298 diálogos que os dois mantiveram no decorrer de 2011, eles discutem ações que vão da interferência em processo judicial ao lobby pela legalização dos jogos de azar no Congresso Nacional.
Enquanto Ronald Bicca preferiu entregar o cargo após as denúncias, o procurador geral de Justiça Benedito Torres e o presidente da AGMP, Alencar Vital, negam qualquer envolvimento com o bicheiro. Ao ser questionado pela tevê Anhanguera, o irmão de Demóstenes se exaltou: “respeitem a minha família”, “respeitem o Ministério Público de Goiás”.
Se Benedito Torres tivesse alertado o irmão Demóstenes com essas duas sábias frases, antes do senador se transformar em serviçal de contraventor, hoje os promotores de Justiça de Goiás estariam livres do terrível constrangimento a que foram submetidos, pois a denúncia de que o ex e o atual chefe do MP de Goiás estariam prestando favores a um criminoso ultrapassou as fronteiras do Estado.

Demóstenes promete ajuda do
 chefe do MP para o bicheiro
Os goianos gostariam que as graves denúncias vindas a tona com a prisão de Carlinhos Cachoeira não passassem de um terrível pesadelo, mas o senador Demóstenes é flagrado nos grampos telefônicos da Polícia Federal submetendo o Ministério Público as vontades do bicheiro.
Numa dos trechos interceptados, Cachoeira diz a Demóstenes: "Manda ele (Benedito Torres, afirma a PF) lá designar um promotor para entrar com uma ação contra isso aí". No mesmo dia, o senador garante a Cachoeira: "Tratei com ele aquelas duas questões, diz que vai resolver, falou?"
Em outro telefonema, Cachoeira pede a Demóstenes que converse com o procurador Benedito Torres para que interceda contra a transportadora Garbano, que estaria em área incômoda para os negócios do contraventor. Em todos os diálogos é visível a submissão do senador ao Don Corleone de Goiás.
Cachoeira pergunta a Demóstenes: "Você falou com seu irmão?" Demóstenes responde: "De novo, não, vou encontrar com ele pessoalmente". Cachoeira demonstra pressa em resolver a questão e Demóstenes sugere falar com Ronald Bicca – o procurador geral do Estado que abandonou o cargo após a divulgação das denúncias.
O bicheiro não aceita a sugestão do senador e lhe ordena: "Tem que ser via Ministério Público, entendeu?". Submisso, Demóstenes responde: "Pode deixar que eu tomo conta disso. (...) Vou procurar meu irmão agora na hora do almoço, vamos almoçar juntos e vou falar essa questão com ele”.
Em nova conversa grampeada, Cachoeira manda Demóstenes dizer ao irmão Benedito Torres para receber o vereador Elias Vaz (PSol), que entrara com uma representação no MP para barrar a licitação do Parque Mutirama. Demóstenes avisa que vai pedir a interferência do procurador: "Vou ligar lá. Te ligo daqui a pouco".

Demóstenes envolve
AGMP no esquema
As gravações telefônicas revelam que o senador Demóstenes não pestanejou na hora de abalar a credibilidade do Ministério Público e tampouco poupou a imagem dos promotores de Justiça quando pôs a própria AGMP a disposição da quadrilha de Cachoeira, como mostra as transcrições da PF.
Em outro diálogo interceptado, Cachoeira diz a Demóstenes que acione o promotor de Justiça Alencar José Vital, presidente da AGMP e o mande cuidar de um processo contra o vereador Amilton Batista, presidente da Câmara Municipal de Anápolis. O senador promete: "O Alencar, que é o promotor que coordena essa turma, ficou de dar uma resposta",
A “turma”, como os promotores de Justiça são chamados, pejorativamente, por Demóstenes, não estariam em situação embaraçosa se tivessem exigido a saída do procurador Benedito Torres da chefia do MP quando estouraram as acusações contra o irmão senador. Recentemente, ao iniciar um processo, um promotor foi questionado: “O caso vai ser investigado pelo irmão do sócio de Cachoeira?”
Noutra ligação, Cachoeira manda Demóstenes resolver a situação de um processo sobre a Faculdade Padrão, do empresário Valter Paulo Santiago, amigo do bicheiro. Solícito, o senador afirma: “Alencar irá cuidar pessoalmente das duas situações". Demóstenes acrescenta que até o fim do dia o presidente da AGMP retornaria a ligação.
O senador aparece em quase 300 diálogos com Carlinhos Cachoeira, que correspondem a 60 horas de interceptação telefônica feitas com autorização judicial. A Operação Monte Carlo foi deflagrada pela PF, em conjunto com o MPF e o Escritório de Inteligência da Receita Federal.

MP e AGMP rebatem acusações
A Procuradoria-Geral de Justiça de Goiás afirma que as decisões do MP foram "opostas à pretensão manifestada por Carlos Cachoeira" e que o procurador Benedito Torres "jamais aceitaria ingerência" e "desconhecia qualquer relacionamento do senador Demóstenes Torres com as pessoas ou as empresas investigadas na Operação Monte Carlo".
O presidente da Associação Goiana do Ministério Público, promotor Alencar José Vital alega que o fato de o senador ter usado seu nome foi uma "fanfarronice e irresponsabilidade de Demóstenes diante de tantas outras coisas que o Brasil está vendo sobre ele".
Ronald Bicca confirmou ter dado parecer favorável a Edemundo Dias Filho, por tratar-se de caso "corretíssimo e tranquilo". Ele afirma ser amigo do senador, mas diz nunca ter tratado de assunto "relacionado a governo com Demóstenes Torres e muito menos com Cachoeira". Bicca entregou o cargo na Procuradoria Geral do Estado.
As acusações de envolvimento do chefe do Ministério Público, do presidente da AGMP e de Ronald Bicca, (ex Procuradoria Geral do Estado) com Carlinhos Cachoeira integram o inquérito da Polícia Federal na Operação Monte Carlo.
Apesar das tarjas de “segredo de Justiça”, “sigiloso”, “confidencial” e “reservado”, os documentos estavam sendo enviados a conta gotas para emails de jornalistas. A duas semanas o processo foi disponibilizado na íntegra na web.

Procuradoria do Estado
trabalhava para o crime
A prisão de Carlinhos Cachoeira desencadeou uma onda de escândalos de corrupção nunca vistos antes na história de Goiás. O governador Marconi Perillo (PSDB) é acusado de entregar o comando da Segurança Pública ao bicheiro. Segundo a PF, o bicheiro tinha carta branca também em outros setores da administração tucana.
Num de seus famosos telefonemas Cachoeira ordena ao ex-vereador Wladimir Garcez – preso junto com o bicheiro – que pegue com Ronald Bicca, então procurador geral do Estado, um "parecer favorável" ao delegado Edemundo Dias Filho, também tesoureiro do PSDB de Goiás, que enfrentava um processo administrativo.
Em outro diálogo, Demóstenes relata a Cachoeira que Bicca teria lhe dito que "não gosta de falar com intermediários": Demóstenes diz: "Ele insinuou que você manda alguém atrás dele. E quando você quiser as coisas, você chama ele e fala, ué".
Antes de se mandar do cargo, Bicca confirmou ter dado parecer favorável ao delegado Edemundo, mas alega que “agiu dentro da lei”. O fato é, ele cumpriu a ordem dada pelo bicheiro através de Garcês.
Marconi Perillo também é citado em uma conversa entre Demóstenes e Cachoeira sobre uma "concessão" que a Assembleia Legislativa de Goiás irá decidir. O senador pergunta ao bicheiro: "Eu acho que o Marconi que precisava mandar, para evitar questionamentos futuros, você num acha não?"
Cachoeira discorda, mas o senador alerta para o risco de a operação ser contestada por "vício de origem". O bicheiro então aceita a sugestão de Demóstenes, dando a entender que irá tratar o assunto diretamente com Marconi: "Eu vou discutir isso com ele, tá?".
O Governador continua negando que tenha feito qualquer negócio com Cachoeira. Recentemente, o tucano alegou que por frequentar a “alta sociedade”, havia encontrado com Cachoeira em uma ou duas ocasiões. Marconi não explicou por quê o chefe da máfia da jogatina frequentava livremente a “alta sociedade” sem jamais ser importunado pela Polícia.

Se correr o bicho pega...
Se Demóstenes renunciar ao mandato ou for cassado, assume em seu lugar Wilder Pedro de Morais, seu primeiro suplente. Wilder é secretário de Infraestrutura no Governo de Marconi Perilo e, segundo relatório da Monte Carlo, emprega no órgão um parente da ex-mulher de Cachoeira, de quem também é amigo. A mulher de Wilder o trocou pelo bicheiro.
Segundo a PF, são ligados ao bicheiro Cachoeira quatro secretários de Marconi: Alexandre Baldy, da Indústria e Comércio; Jayme Rincon, da Agência de Obras; Ronald Bicca, procurador-geral do Estado; e Wilder Pedro de Morais, secretário de Infraestrutura e primeiro-suplente de Demóstenes.
O deputado federal Leonardo Vilela (PSDB) também está na lista de pessoas ligadas ao bicheiro. Ex-secretário de Meio Ambiente de Marconi e pré-candidato a Prefeitura de Goiânia nas eleições deste ano, Vilela trocou ligações telefônicas e manteve encontros com o bicheiro.
Seguindo a mesma linha de defesa dos demais envolvidos com o contraventor, Leonardo Vilela afirma que os seus telefonemas para Cachoeira “foram para falar de assuntos lícitos". Ele arremata que não mantém com o bicheiro "relações políticas, nem de amizade."

A derrocada do senador
A Operação Monte Carlo foi deflagrada no dia 29 de fevereiro passado. Três dias depois a investigação da Polícia Federal revelou que o senador Demóstenes Torres trocou quase 300 telefonemas com o contraventor Carlinhos Cachoeira no decorrer de 2011, todos grampeados pela PF. Começava aí a sua derrocada política.
As gravações mostram que Demóstenes recebeu do amigo um fogão e uma geladeira importados, de presente de casamento em 2011. Duas semanas depois, a revelação de outro grampo telefônico diz que Demóstenes reclamou do seu iPad quebrado e Cachoeira lhe deu outro. Demóstenes afirmava a imprensa: “Carlinhos e eu somos amigos', “eu pensei que ele tivesse abandonado o crime”. (sic)
A versão de Demóstenes caiu na próxima denúncia: Carlinhos Cachoeira habilitou em Miami 15 aparelhos de rádio, da marca Nextel, e os distribuiu entre a cúpula da quadrilha. O senador Demóstenes era o número 1 no grupo dos 14 que receberam os telefones, adquiridos com o objetivo de evitar a interceptação das conversas pela Polícia.
Outra revelação bombástica da Polícia Federal: Demóstenes Torres é sócio do bicheiro Carlinhos Cachoeira. O senador faturava 30% do que era arrecadado pela máfia dos caça níquéis e do jogo do bicho em Goiás e já teria embolsado R$ 50 milhões com o esquema criminoso. Segundo a PF, o parlamentar pedia dinheiro e vazava informações de reuniões oficiais em Brasília a Carlinhos Cachoeira.
A imprensa tomou conhecimento de que um documento com as gravações e outros graves indícios de corrupção fora enviado a Procuradoria Geral da República em 2009, mas o chefe da instituição, Roberto Gurgel, não tomou qualquer providência para esclarecer o caso. Em 27 de março, Gurgel muda de atitude e pede ao Supremo Tribunal Federal para investigar Demóstenes. No mesmo dia, pressionado pelos correligionários, o senador renuncia a liderança do Democratas.
No último dia três de abril, sob a ameaça de ser expulso do partido, o senador se desfilia da legenda e até hoje não foi convidado a ingressar em nenhuma outra. A denúncia, agora, de que exercia tráfico de influência no Ministério Público de Goiás em prol do bicheiro surge no momento em que Demóstenes responde processo por quebra de decoro parlamentar. Ele não fala em renúncia e pode ter o mandato cassado.

Escutas telefônicas feitas ao longo de 2009 mostram que Demóstenes colocou o mandato de senador a serviço dos negócios escusos de Carlinhos Cachoeira

Após pressão de parlamentares, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal - STF, a instauração de inquérito para investigar o senador Demóstenes

Demóstenes vive uma situação "mortal" para um político e não tem outra saída a não ser a imediata renúncia ao mandato (Ophir Cavalcante, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB)


No inquérito aberto contra o senador pelo STF, e onde aparecem apenas as iniciais do seu nome, DLXT - Demóstenes Lázaro Xavier Torres, ele responde por corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa




Um comentário:

  1. Bom dia Edna Soares! me chamo welber dono da talentos grafica e auto da denúncia, gostaria muitom de falar a respeito dessa denúncia e explicar muita coisa que a população de aparecida ainda não sabe. entre no meu face welber iglesias que eu explico com mais clareza

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