21 de dezembro de 2010

Crimes ambientais estão engolindo Senador Canedo


Os serviços da prefeitura de Senador Canedo na área de infraestrutura são tão mal feitos que estão matando os rios do município, a exemplo dos córregos Sapé, Café e Laginha, onde são bem visíveis os estragos pelos crimes ambientais. O ecossistema está comprometido e põe em risco a saúde e a qualidade de vida da população.

Sem planejamento, a prefeitura iniciou obras de drenagem urbana e canalização de águas pluviais e, irresponsavelmente, direcionou o escoamento para os córregos Café, Laginha e Sapé onde, para piorar, já existia um lixão a céu aberto. O resultado: grave desiquilíbrio ambiental.

A ação da prefeitura afronta toda a legislação do meio ambiente e até as leis de proteção internacional das águas. Regiões em Senador Canedo está sendo tragadas por enormes erosões e os córregos estão morrendo, vítimas dos danos ao meio ambiente.

O Ministério Público foi acionado para impedir a prefeitura de continuar o processo de degradação da natureza. O pedido de “interferência urgente do MPE” foi feito por uma Comissão de Alunos da Educação Ambiental.

Os danos ao meio ambiente começaram a quase uma década e se alastraram rapidamente. Mas até ontem, a atuação da 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Senador Canedo se limitava ao Procedimento Administrativo número 005.
Erosão castiga
o Córrego Café
O divisor de águas de Senador Canedo é na avenida principal e o lançamento das águas pluviais coletadas na região Oeste da cidade é direcionado para um grande processo erosivo no final da rua Itaperuna, na nascente do Córrego Café.

Quando técnicos da Agência Ambiental de Goiás estiveram no local, eles atestaram que a erosão aumenta significativamente, e que ela só pode ser contida se a prefeitura fizer um projeto arrojado nesse sentido.

O laudo é assinado pelos técnicos industriais em saneamento, Neri Caetano Barbosa e Lilian Aquino Ramos. Eles asseguram que os danos ambientais foram provocados pelos serviços de drenagem urbana e canalização de águas pluviais, executados sem nenhum tipo de estudo para proteger o meio ambiente.

Não a registro de projeto algum da prefeitura para conter a erosão nascida por culpa dos danos provocados ao Córrego Café, como adverte o Relatório Técnico da Agência Ambiental de Goiás.

Na 2ª Promotoria de Justiça de Canedo também não a notícia de alguma Ação Civil Pública proposta no intuito de punir a prefeitura por mais esse crime ambiental. A erosão continua lá, só aumentando, processo que agiliza no período de chuvas.

Córrego Laginha
 sofre degradação
As águas da região Leste da cidade escoam direto para o leito do Córrego Laginha. O primeiro ponto de lançamento é no fim da avenida Central, em uma canalização feita sem nenhum estudo ou avaliação dos impactos ambientais que pode provocar, assegura o Relatório Técnico.

O segundo ponto de lançamento das águas que escoam para o Córrego Laginha está no final da avenida Belo horizonte, justamente na Área de Preservação Permanente do curso d'água. Conforme o relatório da Agência Ambiental de Goiás, na região “existe sérios problemas de processos erosivos intensos”.

No documento os técnicos Neri Caetano e Lilian Ramos ressaltam que além da abertura da vala para passagem de água pluvial, a prefeitura drenou parte da Área de Preservação Permanente do Córrego Laginha.

Os técnicos frisam que a prefeitura executou as obras sem o devido licenciamento e sem fazer o EIA – Estudo de impacto Ambiental. Eles chamam a atenção para a ocupação desordenada na Área de Preservação Permanente do curso d'água.

Eles se referem as edificações irregulares urbanas e aos proprietários rurais que formam pastagens na margem esquerda do sofrido córrego. Também nesse caso, ninguém foi punido. O meio ambiente está morrendo, mas a 2ª Promotoria de Justiça ainda não venceu a fase do Procedimento Administrativo.

Córrego Sapé é
 vítima do descaso
O processo erosivo nas proximidades do Córrego Sapé também não foi solucionado pela prefeitura, conforme afirma a geógrafa Fabiana Cristina Roseno de Moraes, da Semma – Secretaria Municipal de Meio Ambiente, no seu Parecer Técnico enviado a 2ª Promotoria de Justiça do Canedo, no dia 19 de março de 2008.

A geógrafa diz que houve a prefeitura tentou reverter a degradação ambiental fazendo aterramento em alguns pontos e construindo duas bacias de contenção para as águas pluviais.

Ela relata que o serviço ficou inacabado e acrescenta que a justificativa da prefeitura para não concluir o serviço é de que ele seria de obrigação da Seinfra – Secretaria de Infraestrutura.

Nesse jogo de empurra empurra, a vítima é o Córrego Sapé e a população canedense, que está ceifada no seu direito de viver num meio ambiente saudável e equilibrado, como manda a Constituição Federal.

Povo se vira como pode
Laudo de uma vistoria realizada na Alameda do Sapé, no setor Vargem Bonita, em março do ano passado, reafirmou o que a 2ª Promotoria de Justiça do Canedo já sabe a muitos anos: que a erosão ali prossegue pelo terreno da igreja Assembléia de Deus, no quilômetro 11, até chegar no Córrego Sapé.

Também não é novidade outra informação do Relatório de Vistoria, a de que o processo erosivo “existe a muito tempo” e o serviço de infraestrutura feito pela prefeitura contribui psara agravar o problema.

A geógrafa Fabiana de Moraes, que fez a vistoria, revela que na Alameda do Sapé os próprios moradores tentaram várias vezes diminuir o sofrimento, colocando entulhos e pedras para conter a degradação e garantir o tráfego. Contudo, na época das chuvas a situação piora.

Um pastor da Assembléia de Deus disse à geógrafa que o problema está tão grave que foi precisa até mudar o percurso para a igreja, o acesso agora é feito pela GO-020, e os fiéis são obrigados a caminhar por uma tubulação de manilha.

Fabiana termina o relatório a 2ª Promotoria de Justiça afirmando que é necessária a implantação de drenagem pluvial. O problema continua dando dor de cabeça para a comunidade, que tenta resolve-lo com a utilização de manilhas, pedras, entulhos e valas.

Nova vistoria atesta o óbvio
Numa outra vistoria – se pareces de técnicos resolvessem o problema, Canedo seria referência em respeito ao meio ambiente – a geógrafa Fabiana de Moraes “descobriu” que a erosão na Alameda do Sapé, no setor Vargem Bonita, prossegue até a chácara nossa Senhora Aparecida, chácara 10, quilômetro 11, frente a GO-020.

Ela informa em mais esse relatório enviado a 2ª Promotoria de Justiça que era grave o processo erosivo em frente a Escola José Botelho, na Alameda do Sapé, inclusive impedindo o tráfego de veículos.

A geógrafa também informa que os donos das chácaras vizinhas colocam tubos de manilhas para tentar conter a água que desce das chuvas. Ela termina o relatório afirmando que é preciso construir galeria de água pluvial e recomenda: “É necessário conter o processo erosivo, com urgência”.

Nesse Laudo Técnico, a geógrafa cita o artigo 19, do Código Municipal do Meio Ambiente. Em linguagem coloquial, essa lei ensina que a prefeitura deve respeitar as necessidades do equilíbrio ecológico e as diretrizes e normas de proteção ambiental.

Convênios sem resultados
O “trabalho” de infraestrutura da prefeitura foi feito ao arrepio da lei, sem a devida licença ambiental. O crime ecológico rendeu aos cofres municipais uma multa de R$ 10 mil, aplicada pela Agência Goiana do Meio Ambiente, conforme prova o Auto de infração número 5907.

O documento alerta que além de não ter licença, a prefeitura começou as obras sem fazer o Estudo de Impacto Ambiental. Ele é obrigatório e necessário para diagnosticar se os serviços poderão prejudicar o ecossistema. Exatamente o que acontece hoje no Canedo.

Num ofício encaminhado ao promotor de Justiça Glauber Rocha Soares, a prefeitura afirmou que estava firmando um convênio com a Universidade Católica de Goiás e a Universidade Estadual de Goiás no intuito de encontrar solução para as erosões da Vila Galvão, Rua José Calaça e Córrego do Sapé. Segundo moradores desses locais, nada foi resolvido.

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