Com a experiência de ajudar
viciados em drogas até da sinistra Cracolândia, em São Paulo,
pastor evangélico carioca transforma quatro chácaras de Gurupi, no
Tocantins, em centro de recuperação para dependentes químicos
Usando a mensagem religiosa como o
principal método de cura no tratamento de dependentes químicos,
inclusive usuários de crack, o pastor evangélico Carlos Nascimento,
43 anos, se apresenta como a luz no fim do túnel para os viciados em
drogas de Gurupi e regiões vizinhas.
Ele fundou no município a “Casa
de Recuperação Valentes de Davi”, que funciona em quatro chácaras
vizinhas, de cerca de cinco mil metros quadrados cada, próximo ao
distrito industrial. Sua missão ali é libertar o viciado e,
consequentemente, combater a disseminação das drogas, um cancro
social cada vez mais avassalador em Gurupi.
A técnica de recuperação do
pastor Carlos é basicamente por meio de mensagens do evangelho.
Todas as manhãs os internos se ocupam de orações, leituras da
Bíblia e reflexões. O restante do dia é preenchido com terapias
ocupacionais, a exemplo do cultivo de hortas, criação de animais e
confecção de artesanatos.
Apesar de o local já ser
reconhecido como o endereço da esperança para quem deseja se livrar
das drogas, o trabalho do pastor é quase solitário no resgate da
vida humana. Ele é quem paga o aluguel das quatro chácaras, R$
600,00 por mês. A Casa conta com a ajuda de voluntários, e nenhuma
ajuda do poder público.
A Casa de Recuperação Valentes
de Davi, inscrita no CNPJ 13650274/0001-78, tem alvará de
funcionamento, estatuto próprio, registro no Conselho Anti Drogas e
está tratando dependentes químicos de Gurupi. Porém, para alguns
políticos da região, é como se ela não existisse.
Pelo prazer de ajudar
A droga é um comércio lucrativo
não só para os traficantes, mas para muitas pessoas inescrupulosas
que, a pretexto de ajudar o dependente, transformam esse grave
problema social numa mina de ganhar dinheiro fácil. Não é o caso
do pastor Carlos Nascimento.
Ele declara ter renda própria de
aluguéis de imóveis que possui em São Paulo e Belém do Pará, e
assegura de forma convincente, o dinheiro que ganha é suficiente
para lhe garantir a sobrevivência, ao lado da mulher e dois filhos,
de 3 e 4 anos.
Aliás, foi para atender a um
pedido da sua mulher – ela é moradora recente em Gurupi e ficou
chocada com o alto consumo de drogas na cidade, inclusive em plena
luz do dia –, que o pastor fundou a casa de recuperação no
município.
A Casa conta com voluntários que,
preparados pelo pastor num curso com duração de 80 horas, viram
líderes para aprenderem como lidar com os internos e a cuidar deles,
nas áreas físicas e emocional.
O pastor Carlos diz que duas
psicólogas vão atender como voluntárias, a partir de agosto. O
tempo de recuperação completa, segundo ele, é de quatro a seis
meses. O que falta de apoio político na
casa, sobra em clima de alto astral, com todos trabalhando contentes
e esperançosos.
Um dos piores desafios no processo
de recuperação é o período de abstinência – quando o
dependente sente imensa vontade de usar drogas –, e é nessa hora
que as orações e os estudos bíblicos tem surtido excelentes
resultados.
Internos esperam apoio político
Apesar de a casa de recuperação
ser um local bem simples e não contar com o apoio das autoridades
locais, o pastor recebe telefonemas a todo momento, de pessoas
interessadas em internar parentes e ele nunca diz não a quem o
procura pedindo socorro.
Ao constatar que a sua mulher não
exagerava ao afirmar que Gurupi está afundando nas drogas e carecia
de uma casa de recuperação, o pastor apresentou o seu projeto a
alguns políticos da região. Eles elogiaram e fizeram ouvidos de
mercador.
Do prefeito de Gurupi, o pastor
conta que não recebeu ainda nenhuma ajuda, mas se acontecer, será
bem vinda, pois até o último dia 25 a Casa de Recuperação
Valentes de Davi não contava sequer com luz elétrica.
O descaso dos políticos não
encontra nenhum respaldo, pois a questão é de saúde pública e põe
em risco a segurança da população. O problema não diz respeito
apenas ao viciado; envolve a família e, por tabela, toda a sociedade
gurupiense fica a mercê das drogas.
Da Cracolândia para Gurupi
O pastor Carlos já tem
experiência em ajudar viciados em drogas. Foi ele quem montou na
Cracolândia, em São Paulo, ao lado do pastor Sílvio Pinheiro, a
primeira “Casa de Recuperação Valentes de Davi”, cuja força do
nome já é capaz de levantar a auto estima do viciado em drogas,
tornando-se o seu primeiro incentivo para lutar contra a dependência.
Pastor Carlos é natural do Rio de
janeiro, mas como membro do Ministério Canadense, trabalhou em
missões evangélicas de 20 países. Afirmando ser formado em
psicologia, teologia e capelania, atuou diretamente com viciados da
Cracolândia, quando morou em São Paulo.
Além da sua bagagem de
experiência com dependentes químicos, o pastor estaria preparado
para receber na Casa de Recuperação que fundou em Gurupi até
viciados de outros países, já que ele assegura saber falar
fluentemente inglês, francês, espanhol e grego.
Além
das reuniões que tem com os recuperandos, pastor Carlos faz
palestras para jovens em centros comunitários da periferia de
Gurupi, sempre orientando sobre a vida, alertando sobre as drogas e
ressaltando a importância de Jesus no dia a dia das pessoas.
Corrente do bem vai aumentar
Um engenheiro amigo do pastor
Carlos, reconhecendo o trabalho dele, lhe ofereceu uma fazenda de 60
alqueires, distante 70 quilômetros de Gurupi. Através de um
contrato, o pastor e os internos irão cuidar da fazenda, enquanto
amplia o número de assistidos.
A ajuda vem a calhar, pois a todo
momento, o pastor recebe telefonemas de pessoas interessadas em se
internar na Casa. Ele busca o jovem, ou idoso e o interna na chácara,
muito simples, aliás.
A procura por internação aumenta
vertiginosamente. No dia 20 de julho a Casa contava com oito pessoas.
No dia 25 já havia recebido mais quatro internos, pois a demanda é
muito grande.
Alguns seguidores de pastor Carlos
são religiosos, outros não, mas todos tem em comum o entusiasmo
pelo projeto que está resgatando reféns das mãos de traficantes em
Gurupi. Pena os políticos ainda não terem despertado para a
importância da missão que se desenvolve bem a frente deles.
Os auxiliares da Casa são pessoas
despretensiosas e com capacidade para continuar o trabalho de
recuperação de dependentes se, no futuro, pastor Carlos for embora
de Gurupi para implantar o seu trabalho em outro lugar.
Curando a alma
O reeducando Douglas de Souza, 18
anos, é ex viciado em crack, está no local há três meses e
explica que a rotina dos internos começa as seis e 30 da manhã,
quando eles fazem oração coletiva, leitura da Bíblia e tiram o
desjejum com café, leite, pão, bolacha e bolo.
As 11 horas é servido o almoço,
geralmente cozido em fogão a lenha e composto de arroz, feijão,
carne, salada e sobremesa. É cedo também que eles começam receber
as doações de mãos interessadas em segurar a ampliar a corrente do
bem iniciada pelo pastor Carlos Nascimento.
Com a mente e o corpo devidamente
cuidados, os internos dividem-se em terapias ocupacionais. Passam o
dia plantando hortas, criando galinhas, porcos e fabricando
artesanatos e conservas.
Os internos recebem lanche as 15
horas, jantam as 18 e assistem um culto as 18h30. As 21 horas eles
recebem mais um lanche – a desnutrição é outro problema
enfrentado pelos dependentes. Vão dormir as 22 horas. É com essa
rotinas saudável que muitas pessoas estão se livrando das drogas
com o método simples do pastor que já ajudou na famigerada
Cracolândia.
O próximo passo da Casa de
Recuperação Valentes de Davi, a primeira de Gurupi, é abrigar e
tratar de mulheres viciadas em drogas. Estranhamente, fora a
providencial ajuda de voluntários, ela não desperta o interesse da
classe política
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