4 de abril de 2014

O evangelho no combate as drogas

Com a experiência de ajudar viciados em drogas até da sinistra Cracolândia, em São Paulo, pastor evangélico carioca transforma quatro chácaras de Gurupi, no Tocantins, em centro de recuperação para dependentes químicos

Usando a mensagem religiosa como o principal método de cura no tratamento de dependentes químicos, inclusive usuários de crack, o pastor evangélico Carlos Nascimento, 43 anos, se apresenta como a luz no fim do túnel para os viciados em drogas de Gurupi e regiões vizinhas.
Ele fundou no município a “Casa de Recuperação Valentes de Davi”, que funciona em quatro chácaras vizinhas, de cerca de cinco mil metros quadrados cada, próximo ao distrito industrial. Sua missão ali é libertar o viciado e, consequentemente, combater a disseminação das drogas, um cancro social cada vez mais avassalador em Gurupi.
A técnica de recuperação do pastor Carlos é basicamente por meio de mensagens do evangelho. Todas as manhãs os internos se ocupam de orações, leituras da Bíblia e reflexões. O restante do dia é preenchido com terapias ocupacionais, a exemplo do cultivo de hortas, criação de animais e confecção de artesanatos.
Apesar de o local já ser reconhecido como o endereço da esperança para quem deseja se livrar das drogas, o trabalho do pastor é quase solitário no resgate da vida humana. Ele é quem paga o aluguel das quatro chácaras, R$ 600,00 por mês. A Casa conta com a ajuda de voluntários, e nenhuma ajuda do poder público.
A Casa de Recuperação Valentes de Davi, inscrita no CNPJ 13650274/0001-78, tem alvará de funcionamento, estatuto próprio, registro no Conselho Anti Drogas e está tratando dependentes químicos de Gurupi. Porém, para alguns políticos da região, é como se ela não existisse.
Pelo prazer de ajudar
A droga é um comércio lucrativo não só para os traficantes, mas para muitas pessoas inescrupulosas que, a pretexto de ajudar o dependente, transformam esse grave problema social numa mina de ganhar dinheiro fácil. Não é o caso do pastor Carlos Nascimento.
Ele declara ter renda própria de aluguéis de imóveis que possui em São Paulo e Belém do Pará, e assegura de forma convincente, o dinheiro que ganha é suficiente para lhe garantir a sobrevivência, ao lado da mulher e dois filhos, de 3 e 4 anos.
Aliás, foi para atender a um pedido da sua mulher – ela é moradora recente em Gurupi e ficou chocada com o alto consumo de drogas na cidade, inclusive em plena luz do dia –, que o pastor fundou a casa de recuperação no município.
A Casa conta com voluntários que, preparados pelo pastor num curso com duração de 80 horas, viram líderes para aprenderem como lidar com os internos e a cuidar deles, nas áreas físicas e emocional.
O pastor Carlos diz que duas psicólogas vão atender como voluntárias, a partir de agosto. O tempo de recuperação completa, segundo ele, é de quatro a seis meses. O que falta de apoio político na casa, sobra em clima de alto astral, com todos trabalhando contentes e esperançosos.
Um dos piores desafios no processo de recuperação é o período de abstinência – quando o dependente sente imensa vontade de usar drogas –, e é nessa hora que as orações e os estudos bíblicos tem surtido excelentes resultados.

Internos esperam apoio político
Apesar de a casa de recuperação ser um local bem simples e não contar com o apoio das autoridades locais, o pastor recebe telefonemas a todo momento, de pessoas interessadas em internar parentes e ele nunca diz não a quem o procura pedindo socorro.
Ao constatar que a sua mulher não exagerava ao afirmar que Gurupi está afundando nas drogas e carecia de uma casa de recuperação, o pastor apresentou o seu projeto a alguns políticos da região. Eles elogiaram e fizeram ouvidos de mercador.
Do prefeito de Gurupi, o pastor conta que não recebeu ainda nenhuma ajuda, mas se acontecer, será bem vinda, pois até o último dia 25 a Casa de Recuperação Valentes de Davi não contava sequer com luz elétrica.
O descaso dos políticos não encontra nenhum respaldo, pois a questão é de saúde pública e põe em risco a segurança da população. O problema não diz respeito apenas ao viciado; envolve a família e, por tabela, toda a sociedade gurupiense fica a mercê das drogas.

Da Cracolândia para Gurupi
O pastor Carlos já tem experiência em ajudar viciados em drogas. Foi ele quem montou na Cracolândia, em São Paulo, ao lado do pastor Sílvio Pinheiro, a primeira “Casa de Recuperação Valentes de Davi”, cuja força do nome já é capaz de levantar a auto estima do viciado em drogas, tornando-se o seu primeiro incentivo para lutar contra a dependência.
Pastor Carlos é natural do Rio de janeiro, mas como membro do Ministério Canadense, trabalhou em missões evangélicas de 20 países. Afirmando ser formado em psicologia, teologia e capelania, atuou diretamente com viciados da Cracolândia, quando morou em São Paulo.
Além da sua bagagem de experiência com dependentes químicos, o pastor estaria preparado para receber na Casa de Recuperação que fundou em Gurupi até viciados de outros países, já que ele assegura saber falar fluentemente inglês, francês, espanhol e grego.
Além das reuniões que tem com os recuperandos, pastor Carlos faz palestras para jovens em centros comunitários da periferia de Gurupi, sempre orientando sobre a vida, alertando sobre as drogas e ressaltando a importância de Jesus no dia a dia das pessoas.

Corrente do bem vai aumentar
Um engenheiro amigo do pastor Carlos, reconhecendo o trabalho dele, lhe ofereceu uma fazenda de 60 alqueires, distante 70 quilômetros de Gurupi. Através de um contrato, o pastor e os internos irão cuidar da fazenda, enquanto amplia o número de assistidos.
A ajuda vem a calhar, pois a todo momento, o pastor recebe telefonemas de pessoas interessadas em se internar na Casa. Ele busca o jovem, ou idoso e o interna na chácara, muito simples, aliás.
A procura por internação aumenta vertiginosamente. No dia 20 de julho a Casa contava com oito pessoas. No dia 25 já havia recebido mais quatro internos, pois a demanda é muito grande.
Alguns seguidores de pastor Carlos são religiosos, outros não, mas todos tem em comum o entusiasmo pelo projeto que está resgatando reféns das mãos de traficantes em Gurupi. Pena os políticos ainda não terem despertado para a importância da missão que se desenvolve bem a frente deles.
Os auxiliares da Casa são pessoas despretensiosas e com capacidade para continuar o trabalho de recuperação de dependentes se, no futuro, pastor Carlos for embora de Gurupi para implantar o seu trabalho em outro lugar.

Curando a alma
O reeducando Douglas de Souza, 18 anos, é ex viciado em crack, está no local há três meses e explica que a rotina dos internos começa as seis e 30 da manhã, quando eles fazem oração coletiva, leitura da Bíblia e tiram o desjejum com café, leite, pão, bolacha e bolo.
As 11 horas é servido o almoço, geralmente cozido em fogão a lenha e composto de arroz, feijão, carne, salada e sobremesa. É cedo também que eles começam receber as doações de mãos interessadas em segurar a ampliar a corrente do bem iniciada pelo pastor Carlos Nascimento.
Com a mente e o corpo devidamente cuidados, os internos dividem-se em terapias ocupacionais. Passam o dia plantando hortas, criando galinhas, porcos e fabricando artesanatos e conservas.
Os internos recebem lanche as 15 horas, jantam as 18 e assistem um culto as 18h30. As 21 horas eles recebem mais um lanche – a desnutrição é outro problema enfrentado pelos dependentes. Vão dormir as 22 horas. É com essa rotinas saudável que muitas pessoas estão se livrando das drogas com o método simples do pastor que já ajudou na famigerada Cracolândia.
O próximo passo da Casa de Recuperação Valentes de Davi, a primeira de Gurupi, é abrigar e tratar de mulheres viciadas em drogas. Estranhamente, fora a providencial ajuda de voluntários, ela não desperta o interesse da classe política 

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